Vem da Antiguidade o sábio conselho de que devemos fazer o possível para nos conhecermos melhor. Não tem o delicioso sabor de caldo de galinha, mas o leitor convirá comigo em que é muito mais útil. Repare, porém, que tal conselho sempre foi dirigido a cada um de nós, individualmente. Quanto eu saiba, nem um historiador ou filósofo tentou aconselhar um País inteiro nesses termos. “Brasil, conhece-te a ti mesmo”. Não, dito assim, nunca encontrei em livro nenhum. Cada vez mais, no entanto, tal conselho vem me parecendo necessário. Tantas são as sandices que tenho lido, e tantas as coisas necessárias que gostaria de encontrar por aí e não consigo, que começo a ficar seriamente preocupado.

Sobre o papel das Forças Armadas, por exemplo, volta e meia ouço coisas sem pé nem cabeça. Coisas estapafúrdias, realmente, tanto que tenho ímpetos de criticar, e às vezes quase deixo escapar alguma pilhéria, mas me controlo. Vai ver são coisas inventadas por gaiatos, sem qualquer contato com a realidade. Então, me abstenho. Sabendo um pouco de sociologia política, a ponto até de ser às vezes citado como “formador de opinião”, prefiro falar na hora certa, se por desventura tais invenções contiverem algum traço de verdade.

Outro dia li que os comandos militares teriam já pronto, em letra de forma e com a devida identificação oficial, um plano a ser executado até 2035. É lógico que não acreditei

Outro dia li que os comandos militares teriam já pronto, em letra de forma e com a devida identificação de coisa oficial, um plano a ser executado até 2035, que consistiria em castrar a democracia civil e assumir plenamente, ele, Exército, as rédeas do governo. Mal comparando, é como se quisessem transformar os três Poderes da democracia num chefe de Estado sem função, tipo Rainha da Inglaterra, passando elas, as Forças Armadas, a exercer a função de chefe de governo, ou seja, de primeiro-ministro. É lógico que não acreditei, primeiro porque não imagino os altos comandos militares elucubrando algo dessa natureza, segundo porque li isso em algum jornal, cuja credibilidade não me cabe afiançar.

As Forças Armadas, a imprensa e todos nós poderíamos estar fazendo centenas de coisas úteis por nosso País. Para promover o crescimento econômico e o bem-estar social. Por que não as encaramos? Em parte, porque somos preguiçosos demais. Em parte, porque não temos uma imagem clara do que poderia ser o “bem comum”, quero dizer, uma vida mais cooperativa e agradável. Por último, queira Deus que não, porque já não conseguimos imaginar o plano inclinado pelo qual um País nas condições em que o Brasil se encontra pode chegar.