Sexta-feira, 11h. Homens e mulheres muitos deles grisalhos, usando capas, como super-heróis aposentados. Seria fácil entrar na brincadeira, porque ambulantes vendem capas, ou, na verdade, bandeiras do Brasil. E camisetas da seleção, bonés, cornetas de plástico e mais verde e amarelo. Barracas de acampamento indicam que alguns estão dormindo ali, na rua da entrada principal do Comando do Segundo Exército, no Ibirapuera, em São Paulo. Mais próximo ao portão, centro da muvuca, food trucks estacionados e faturando. Entre os carros parados nos poucos espaços que sobraram na rua, dois deles estão pintados de verde e amarelo.

Quem está habitando esse cenário chama a ação de “manifestação”, “vigília” ou “clamor das ruas”, para ficar nos termos usados pelos próprios protagonistas. A maioria fica jogando conversa fora, mas 58 abnegados, contados a dedo, senhores e senhoras postados diante do portão, gritam “Forças Armadas! Salvem o Brasil!”, numa repetição incessante e monocórdica. “A garotada vem no fim de semana”, explica uma das apoiadoras, avisando que o filho trabalha e a filha estuda. Algo estranho: o portão está fechado, e ele é maciço, sem deixar ver o que tem lá dentro, e não há um mísero soldado do lado de fora. O único militar aparente é o que está na estátua que decora a entrada do quartel. Para quem então gritam aquelas pessoas? “É uma pressão simbólica”, define uma delas.

Senhores e senhoras postados diante do portão gritam “Forças Armadas! Salvem o Brasil”,
em uma repetição golpista

No food truck de sucos, o tema da conversa é que Bolsonaro não está trancado em casa sem fazer nada ou cuidando de uma possível erisipela. Na verdade, está concluindo um plano para anular as eleições fraudulentas ou simplesmente não deixar o Planalto. Mas essas eleições fraudulentas não deram uma vitória expressiva ao partido dele e a seus apoiadores? Alguém muda
de assunto. É hora de falar dos militares. Sempre tem alguém com verve para conduzir a discussão. “O exército não está parado! Eles estão mudando tropas inteiras de lugar, numa estratégia de colocar contingentes nos pontos cruciais. A coisa é ficar ali, quietinho, até que a hora chega e então… PÁ!!!”, explica o orador da turma, encerrando a fala com um grito e o gesto de uma das mãos avançando para pegar algo imaginário. “PÁ!!!”, como ele disse.

Pedir intervenção militar cansa, menos para aqueles que continuam debaixo do sol gritando “Forças Armadas! Salvem o Brasil”. Então as pessoas vão almoçar, procurar uma sombra. Sorte daqueles que são sócios do clube social e esportivo com caráter militar na rua ao lado. Passam pelas catracas de reconhecimento facial e vão comer uma coisinha nos restaurantes
e nas lanchonetes do clube. Afinal, merecem uma pausa. Eles não estão parados, estão em plena ação, como seu comandante e os militares.