Essa Tal de Bossa Nova
Bruna Ramos da Fonte
Editora Rocco
Preço: R$ 32

A noite de 21 de novembro de 1962 mudou para sempre a história da música brasileira. Foi nessa data que Antonio Carlos Jobim, João Gilberto, Roberto Menescal e Sérgio Mendes, entre outros nomes, subiram ao palco de um dos teatros mais famosos do mundo, o Carnegie Hall, em Nova York. Três mil pessoas lotavam a plateia, entre elas Miles Davis, Dizzy Gillespie e Tony Bennet, ícones do jazz norte-americano. No dia seguinte, na volta ao Brasil, Menescal desceu do avião feliz da vida. Ainda no aeroporto, no entanto, levou um susto ao ver a reportagem da revista Cruzeiro: “Bossa Nova desafinou no Carnegie Hall”, dizia o título. O artista não entendeu nada, uma vez que a apresentação havia sido um sucesso. Mais tarde, em um programa de entrevistas, a inverdade da revista veio à tona: um vídeo com trechos do show mostrava que os músicos não conseguiam sair do palco porque o público não parava de aplaudir. Essa é apenas uma das muitas e deliciosas histórias compartilhadas por Roberto Menescal em Essa Tal de Bossa Nova, livro da pesquisadora Bruna Ramos da Fonte. Redigida em primeira pessoa, a obra dá ao leitor a sensação de estar em um bate-papo informal e divertido com um dos criadores do estilo musical brasileiro mais respeitado no exterior. Menescal é um dos maiores arquivos vivos de histórias e personagens da MPB. Ele sempre tem relatos divertidos”, escreve Nelson Motta na apresentação. Não é exagero: além da bela carreira como compositor e instrumentista, ainda é, aos 85 anos, um dos principais produtores do País. Também deu contribuição inestimável a MPB em sua longa trajetória como diretor artístico da Polygram, uma das maiores gravadoras brasileiras. Sob sua gestão, o selo lançou Milton Nascimento, Chico Buarque, Ivan Lins, Wando, Maria Bethânia, Elis Regina, Fágner, Cazuza e Marina, entre outros. No prefácio, o escritor Paulo Coelho ressalta esse período: “fui preso em 1974 e, quando deixei a prisão, todos os meus amigos se afastaram. Menescal me convidou para trabalhar no momento mais crítico da minha vida, por isso o considero até hoje meu melhor amigo”.

HISTÓRIA O concerto da Bossa Nova no Carnegie Hall, em 1962: apesar do sucesso junto ao público, ele foi criticado por parte da imprensa brasileira

Quem assistiu ao pomposo concerto no Carnegie Hall não poderia imaginar a informalidade que marcou o surgimento do novo ritmo. Era a década de 1950 e o samba-canção estava em alta. O seu clima de “baixo astral” não tinha nada a ver com a leveza da geração de músicos que começavam a conviver no Rio de Janeiro, tendo como base o apartamento de uma jovem e talentosa cantora, Nara Leão. O instrumento mais popular da época, o dramático acordeão, já havia sido substituído pelo violão, instrumento mais leve e prático que a turma levava para qualquer lugar, de Copacabana a Ipanema.

Entre tantas memórias, Menescal lembra da noite que definiu sua vida profissional: “Tom Jobim bateu à minha porta perguntando se eu poderia participar da gravação da trilha sonora do filme Orfeu Negro, uma vez que João Gilberto, que havia sido convidado antes, acabou não aparecendo. Já era madrugada quando terminamos e Tom me perguntou quanto eu ia cobrar pelo trabalho. ‘Receber cachê para tocar com Tom Jobim? Quero saber quanto é que eu devo a você’”, lembra. “Contei a ele que pretendia prestar concurso público ou cursar arquitetura. ‘Mas você não quer tocar? Larga tudo e vai ser músico de vez’, disse Tom. Foi ali que tomei a decisão: cheguei em casa e conversei com meus pais, que ficaram um pouco assustados com a ideia”.

Segundo a autora, a bossa nova foi apenas o início da carreira de Menescal. “Foi uma fase curta que durou apenas quatro, cinco anos. Sua contribuição tem sido ainda maior desde que ele se tornou produtor, o que continua fazendo com maestria até hoje. Além de ter sido criador de um de nossos movimentos mais relevantes, descobriu nomes importantes e continua a incentivar os artistas mais jovens. Ele quer mostrar música boa para as novas gerações”, diz. Assim como a obra de Menescal, o livro de Bruna também contribui para isso.

“Contrução, de Chico Buarque, tinha sete minutos e as rádios não tocavam canções com mais de três. Sugeriram que ela fosse editada, mas afirmei ser impossível, pois a letra era uma história completa. Deu certo: a partir dali, as emissoras passaram a tocar  músicas mais longas”

Roberto Menescal, na época em que era diretor artístico da Polygram

“Eu não posso dar uma classificação maior para esse álbum, mas gostaria que houvesse mais estrelas para premiá-lo ”
Pete Welding, crítico de jazz, após dar a nota máxima, cinco estrelas, ao álbum Antonio Carlos Jobim: The Composer of Desafinado