Embora a ciência flerte com a exatidão, por vezes é afetada por situações inesperadas que mudam o curso da história. Mesmo que a tecnologia atual seja capaz de mapear com precisão cada milímetro que ocupamos, somos moradores novos num habitat milenar, repleto de mistérios e sujeitos ao acaso. Há poucos dias, um grupo de trabalhadores se deparou com diversos objetos estranhos durante uma obra de pedágio na rodovia SP-294, entre Irapuru e Pacaembu, a cerca de 600 quilômetros de São Paulo. Ao contrário do que se pensou, não era ouro nem prata, mas fósseis de dinossauros.

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Divulgação

Especialistas do Museu de Paleontologia Pedro Candolo, em Uchoa (SP), foram chamados ao local e se impressionaram com os fragmentos, datados do período Cretáceo, a cerca de 90 milhões de anos atrás. Espécies lendárias como titanossauros, animais pescoçudos que chegavam a 20 metros de altura, cascos de tartarugas, cágados, escamas de peixe e dentes de crocodiloformes (ancestrais dos jacarés). Estima-se que seja a maior descoberta paleontológica brasileira nas últimas décadas. “O mérito é dos trabalhadores da obra. Eles acharam as primeiras evidências e chamaram seus superiores e depois eles chegaram até nós”, afirma Fabiano Vidoi, paleontólogo do Museu de Uchoa.

AGILIDADE Os especialistas coletaram os materiais em três dias: fósseis bem conservados (Crédito:Divulgação)

Ele afirma que nada teria acontecido sem a colaboração dos trabalhadores e da Agência Nacional de Mineração (ANM), que suspendeu as obras. A coleta dos materiais que estavam 20 metros abaixo do solo durou três dias. A região fica numa bacia sedimentar de Bauru e pode ter sido um rio ou um lago milhões de anos atrás, o que explica as evidências dos animais aquáticos. “O interior paulista é um grande cemitério de dinossauros”, diz.

Apesar da repercussão positiva, o paleontólogo critica a falta de apoio do governo ao setor da ciência e pesquisa brasileira e alega que diversos profissionais atuam “por amor” e em condições precárias. “A ciência não é prioridade. A gente faz milagre e muitas vezes usamos dinheiro do próprio bolso”, afirma. Nos próximos meses, os fósseis, que já estão no Museu de Uchoa, serão expostos na reabertura do espaço, após o fim da pandemia. Resta saber se as descobertas dos gigantes da pré-história irão estimular investimentos do governo na ciência.