25/11/2016 - 18:00
Crise Humanitária 2015/Mundo
Desde a Segunda Guerra Mundial, uma catástrofe humanitária não produzia cenas tão chocantes quanto a crise dos refugiados. Seja do menino sírio Aylan Kurdi, de três anos de idade, bem vestido e com o rosto dentro da água, após ter se afogado quando sua família tentava fazer a travessia do Mediterrâneo. Ou de Omran Daqneesh, outro garoto de quatro anos de idade, filmado enquanto limpava o sangue do rosto, dentro de uma ambulância, após sua casa ser bombardeada em Aleppo. Ou as imagens da cidade completamente destruída. Ou ainda a horda de 65,3 milhões de refugiados, obrigados a deixar seus países de origem, em consequências de guerras ou perseguições e vagando pelo mundo, segundo a ONU.
“Os países ocidentais precisam perceber que esse problema vai durar décadas e não se resolverá em apenas uma geração”, afirma Charly Kongo, 35 anos, refugiado congolês. “As pessoas têm o direito de fugir quando se sentem em perigo e não veem perspectiva de futuro. No passado, os europeus já fugiram pelos mesmos motivos que nós, seja por guerra, fome ou perseguição étnica.”

No caso da Síria, o conflito começou como um levante da Primavera Árabe contra o líder ditatorial Bashar al-Assad e se transformou numa guerra civil brutal. O conflito foi além dos grupos pró e contra o governo e tornou-se uma guerra étnica entre xiitas e sunitas, com o envolvimento de grupos jihadistas, incluindo o radical Estado Islâmico. Países vizinhos e as maiores potências do mundo também entraram na briga. Metade da população do país — 11 milhões de pessoas — ficou desabrigada. Com medo dos conflitos, que também envolveram crimes de guerra e armas químicas, 7,6 milhões de pessoas deixaram suas casas. Maior grupo de refugiados, há 5 milhões de sírios pedindo asilo a outros países.

Conflito extremo
Uma série de outros países também vive situações de conflito extremo, como o Afeganistão, de onde vem o segundo maior grupo de refugiados. No continente africano, há ainda 4,4 milhões deles, provenientes principalmente da Somália, Sudão do Sul, República Centro Africana e República Democrática do Congo, onde nasceu Charly.
Enfermeiro de formação, ele conseguiu seu visto para o Brasil após os conflitos das eleições de 2008. Com o aumento dos pedidos, ele diz que as permissões tornaram-se mais difíceis e que em um dia, quando há um conflito num país vizinho, o Congo recebe mais refugiados do que o Brasil num ano inteiro. “O primeiro impacto que todos estamos vendo é o aumento do populismo e da xenofobia, o rejeitar ao outro, o racismo, o crescimento da extrema direita”, afirma ele, que trabalha num hotel, casou-se com uma brasileira, tem um filho de dois anos e cursa faculdade de turismo. “Não chegamos para roubar o trabalho, mas para dar nossa contribuição ao crescimento da economia e do País.”
