07/07/2023 - 8:00
Uma nova era para a eletromobilidade pode ser observada no Brasil, principalmente com a industrialização focada no setor pelos fabricantes vindos da China. Os sinais estão em investimentos como a aquisição da fábrica da Ford, em Camaçari, na Bahia, pela montadora chinesa BYD; a aquisição pela GWM da planta da Mercedes Benz, em Iracemápolis, interior de São Paulo; a inauguração de uma fábrica da Eletra, voltada para os ônibus elétricos 100% nacionais em São Bernardo do Campo, ABC paulista; além da Higer Bus, que promete começar a sua produção em 2024. Juntas, as montadoras asiáticas somam aportes de mais de R$ 20 bilhões no País.
“Hoje, a América do Sul é a bola da vez nesse comércio de veículos com energia limpa.”
Marcelo Barella, diretor da Higer Bus para América Latina
Dados da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), registraram 6.435 emplacamentos de veículos eletrificados em maio deste ano, estabelecendo a maior marca mensal de vendas dos veículos leves movidos à eletricidade desde o início da série histórica.
Com isso, o País ultrapassou a marca de 150 mil veículos elétricos em circulação, chegando 152.453 em maio.
59%
Foi o aumento de veículos elétricos no 1º semestre de 2023
A gigante chinesa BYD desembarcou no mercado brasileiro em 2015 com toda sua imponência e carros e ônibus importados, mas é agora, com um investimento de R$ 3 bilhões, que a marca chinesa passará a produzir automóveis elétricos na Bahia. A empresa vai gerar mais de cinco mil empregos e sua a maior concorrente internacional é a Tesla, mas a BYD promete entrar com tudo no mercado brasileiro e oferecer carros com preços competitivos.
O modelo de entrada será o Dolphin, um hatch que começa, inicialmente, a ser trazido ao País com preço de R$ 149,8 mil, mas que depois poderá vir ser fabricado no complexo fabril de Camaçari.
E, para o final do ano ou começo de 2024, a fabricante asiática promete lançar o compacto Sagull, com um preço estimado de R$ 100 mil.
“Esse é um momento de extrema importância para a BYD nas Américas”, afirma Stella Li, CEO da BYD Américas.
“As novas fábricas no Brasil vão permitir a introdução e aceleração da eletromobilidade no País, um movimento-chave para combater as mudanças climáticas e, de fato, melhorar a qualidade de vida das pessoas.”
Stella Li, CEO da BYD Américas

Cenário favorável
Nos últimos anos, a China emergiu como o maior mercado de veículos elétricos (VEs) de todo o mundo e tem desempenhado influência fundamental nesta indústria, seja pelo seu incomparável mercado interno, impulsionado pela política governamental que incentiva a adoção de VEs como principal alternativa sustentável, seja pela enorme aposta que vem fazendo em inovação tecnológica, indústria 4.0, incluindo pesquisa e desenvolvimento de baterias.
“No cenário brasileiro, principalmente com a ausência da Tesla, as montadoras chinesas como BYD e GWM têm investido pesado, com VEs a preços competitivos e, mais recentemente, com a tão esperada notícia de produção nacional”, avalia Davi Bertoncello, CEO da Tupinambá Energia, que desenvolve e administra pontos de recarga de carros elétricos no Brasil.
De olho na necessidade de aumento da frota de ônibus menos poluentes para a melhoria do transporte público urbano, a chinesa Higer Bus, líder mundial na fabricação de ônibus elétricos, viu a oportunidade de comercializar seus veículos totalmente elétricos no Brasil e, para tanto, deve começar suas operações na fábrica de Pecém (CE), em 2024.
“Hoje, a América do Sul é a bola da vez nesse comércio de veículos com energia limpa e o Brasil é o maior mercado de transporte urbano.”
Marcelo Barella, diretor da Higer Bus para América Latina.
A Higer Bus tem uma receita anual de US$ 5,5 bilhões.
De acordo com os dados da ABVE, no primeiro semestre de 2023 houve um aumento de 59% nas vendas em relação ao mesmo período de 2022.
“Na medida em que estamos buscando alternativas para a mobilidade das pessoas nas cidades, diria que o mercado de veículos elétricos tende a ocorrer de uma forma bastante significativa nos próximos anos”, explica Antonio Jorge Martins, coordenador dos cursos automotivos da FGV.
Diferentemente de anos anteriores, quando indústrias chinesas chegavam ao País apenas para montar kits semiprontos de carros de baixo custo, agora a maioria dos fabricantes chega com investimentos pesados para produzir modelos eletrificados, nacionalizar as peças e incentivar centros de pesquisas e de serviços.
INVESTIMENTOS
BYD
Investimento: R$ 3 bilhões
Empregos 5 mil
Higer Bus
Investimento: mais de R$ 100 milhões
Empregos: 700
GWM
Investimento: R$ 10 bilhões no País até 2032
Empregos: 2 mil
A GWM chegou ao Brasil em 2021 e comprou a fábrica da Mercedes-Benz em Iracemápolis, depois da desistência da montadora alemã em manter a fabricação de seus automóveis de luxo no País.
“O mercado brasileiro já vinha sendo estudado pela GWM há 12 anos. Desde que a descarbonização global passou a ser prioridade, a empresa enxergou a oportunidade de entrar no País, onde a eletrificação ainda está dando os primeiros passos”, conta Ricardo Bastos, diretor de Assuntos Institucionais da GWM Brasil.
Com um aporte de R$ 10 bilhões até 2032, a montadora está adaptando toda a estrutura fabril, que já era considerada de ponta, para a produção de modelos flex, híbridos plug-in e mais para frente os elétricos.
“Em maio de 2024, a GWM iniciará as atividades da fábrica com capacidade de produção de 100 mil veículos por ano. Nosso primeiro modelo será, a princípio, uma picape híbrida de porte médio”, revela o executivo.