06/01/2023 - 9:30
O título original da autobiografia do príncipe Harry, Spare, que será lançada em 10 de janeiro, ganhou em português o título de O que Sobra. A melhor tradução, no entanto, seria algo como “estepe” ou “suplente”: no jargão da aristocracia real, Spare é o filho que só serve em caso de alguma tragédia acontecer ao primogênito, o herdeiro da Coroa. Ser lembrado constantemente de que é o filho “reserva” é uma mágoa que Harry arrasta ao longo de toda a obra. Ele lembra com pesar, por exemplo, da história que a mãe contava sobre o dia do seu nascimento. Seu pai, o hoje Rei Charles III, teria dito a ela: “que maravilha, você me deu um herdeiro e um suplente, meu trabalho está feito”.

Se 2022 foi o ano em que Harry e Meghan Markle lavaram a sujeira real em público na série da Netflix, o início de 2023 será marcado por outro terremoto: o livro de Harry tem como alvo o irmão, o futuro rei William, e sua mulher, Kate Middleton, a princesa de Gales – título, aliás, que já pertenceu à mãe de Harry, Diana. Trechos obtidos pela imprensa britânica revelam que a disputa entre os filhos de Charles foi além da discussão verbal: William chegou a agredir Harry durante uma discussão sobre Meghan.
Harry descreve a cena em tantos detalhes que fica difícil imaginar que ele possa tê-la inventado. William lhe procurou para falar sobre a “catástrofe contínua” que seria o relacionamento dele com a mulher e o comportamento dela em relação à imprensa. Quando chegou ao Nottingham Cottage, nos arredores do Palácio de Kensington, onde Harry e Meghan moravam, William já estava “quente”, segundo o relato. Ao criticar Meghan, Harry respondeu que ele estava apenas repetindo a narrativa dos tabloides e que esperava um apoio maior do irmão mais velho. A discussão foi ficando mais acalorada e chegou aos gritos. Diante do nervosismo de William, Harry foi até a cozinha para pegar um copo de água. William o seguiu: recusou a água e avançou contra o irmão. “Tudo aconteceu muito rápido. Ele me agarrou pelo colarinho, rasgou minha camisa e me jogou no chão. Caí sobre a tigela de água do cachorro, que quebrou em pedaços e fez cortes nas minhas costas”, conta Harry. “Fiquei ali por um momento, atordoado, depois me levantei e disse para ele sair da minha casa.” Ele conta ainda que William o chamou para a briga, mas que se recusou. O irmão deixou a casa, mas voltou logo depois, dizendo-se arrependido e pedindo desculpas. “Você não precisa contar isso para a Meghan, não é?”, teria sugerido o agressor. O príncipe escreve que não precisou contar para a esposa, pois ela teria visto os hematomas nas costas. Ao saber do caso, a duquesa de Sussex não ficou surpresa: “Apenas terrivelmente triste”.
Harry culpa William e Kate por encorajá-lo a usar um uniforme nazista em uma festa à fantasia. E revela que dirigiu em alta velocidade pelo túnel onde Diana morreu, em Paris, para saber o que ela sentiu
O livro traz ainda outros episódios significativos sobre a relação com William e Kate. Ele os culpa por seu maior escândalo, quando usou um uniforme nazista em uma festa à fantasia. Diz que o casal o encorajou a seguir com a ideia. Em outro momento, Harry desabafa sobre a mãe e conta que dirigiu um carro em alta velocidade pelo mesmo túnel onde Diana sofreu seu acidente fatal, para saber o que ela sentiu.
Casal problema
A maior parte do livro é dedicada ao seu relacionamento com a mulher. Harry e Meghan se conheceram em 2016 e se casaram em 2018 no Castelo de Windsor. Como duque e duquesa de Sussex, começaram a vida como membros da realeza, mas, logo se separaram da família e renunciaram aos seus títulos, mudando para a Califórnia, nos EUA, e criando uma produtora de conteúdo – o livro é um projeto dessa empresa. Em uma entrevista para divulgá-lo, declarou que desejava ser “parte de uma família, não de uma instituição”, e que “queria o pai e o irmão de volta”.
Se depender do seu livro, será difícil. Mas as relações entre os integrantes da família real são imprevisíveis. Mesmo após a polêmica com o documentário da Netflix, a imprensa garantiu que Harry e Meghan seriam convidados para a coroação do rei Charles III, em 6 de maio. “Todos os membros da família serão bem-vindos. Charles ama os dois filhos”, disse uma fonte real ao tablóide Daily Telegraph. Resta saber se esse amor sobreviverá a O que Sobra.