Desde 1º de fevereiro, a Azul aumentou em 3 kg o peso permitido para cães e gatos viajarem com seus donos na cabine do avião. O limite que era de 7 kg mudou para 10 kg (somando o peso do animal e a caixinha de transporte). A notícia foi aprovada por tutores, que rogam por mais lugares, empresas e serviços pet friendly – expressão adotada para informar que animais domésticos são bem-vindos. As boas novas mostram uma mudança no olhar das companhias aéreas, que criam maneiras para aceitar pets diante da importância deles na vida das famílias. Nos últimos anos, tristes casos como o da Pandora, que ficou 45 dias desaparecida após fugir de sua caixa de transporte no Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, alarmaram a sociedade.

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A cachorra estava no compartimento de carga e sumiu durante uma conexão. Reinaldo Junior, o responsável, mobilizou o País até reencontrá-la. Por essa e outras histórias, muitos admitem o receio de se separarem de seus pets quando o assunto é viajar.

NA ESTRADA Acostumado a andar de carro com a família, Tornado viajou de Recife para São Paulo em três dias: cinto de segurança deixou o tutor Rodrigo Lima tranquilo (Crédito:Divulgação)

A jornalista Juliana Santos, de 32 anos, por exemplo, encontrou uma alternativa para não despachar Juninho, de dois, no porão quando se mudou de Portugal para o Brasil no ano passado. “Ele passou por dieta por causa do limite da companhia, que era de 8 kg. O levamos na veterinária e ela disse que seria possível sem ser prejudicial para a saúde. Então, prescreveu uma ração específica para que ele pudesse emagrecer para ir comigo na cabine”, narra. “O limite da empresa é a soma do peso do animal com a caixa. E a mais leve que consegui pesava 1,1 kg. Em três meses, ele emagreceu 900 gramas”.

Em deslocamentos de avião, tutores também precisam se atentar às regras e documentos exigidos por cada empresa aérea. Sem raça definida, Juninho tem porte pequeno e conseguiu não ir no bagageiro. Mas ainda há limitações, pois algumas não aceitam raças como, por exemplo, Rottweiler, Pitbull e Boxer.

Viajar de carro, então, se torna opção para as famílias. É o caso do publicitário Rodrigo Lima Melo, 40, que foi de Recife para São Paulo com Tornado, de dois anos, no banco de trás, em 2021. O cão da raça Boiadeiro-australiano de espírito aventureiro já estava acostumado a ir para as praias de Pernambuco. Por isso, não estranhou o percurso de três dias, com Melo atento às regras. Quando o assunto é animal no veículo, as normas são tão importantes quanto as que se referem às crianças. “Nós forramos os bancos com capa veicular, colocamos um peitoral com um arnês, que veste bem no peito e segura bem em caso de impacto”, detalha. “Foi tudo tranquilo, com segurança e conforto para ele. Tornado é calmo, nem parece que tem um cachorro atrás”.

CUIDADOS Bárbara Muniz levou Felix de avião e trem para o Canadá; o Persa Vangelis viajou de carro com a tutora Ana Elisa munido de carteira de vacinação (Crédito:Divulgação)

Pets não podem ficar soltos no carro. Segundo o Código de Trânsito Brasileiro, é proibido levar pessoas, animais ou volume entre braços e pernas. Tornado usou cinto apropriado, mas muitos não seguem tal determinação. “O motorista não pode levá-lo no colo. Muita gente acaba fazendo isso, infelizmente”, alerta a veterinária Jade Petronilho, coordenadora de conteúdo da Petlove.

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Em passeios desse tipo, há as opções de cestos e caixas de transporte. Se o animal está acostumado com o acessório, não há com o que se preocupar.

A jornalista Ana Elisa Teixeira, 35, fez o teste com Vangelis, de dois anos. Em 2021, viajou por três horas para o interior de São Paulo com o gato Persa em sua caixa. “Me preocupei muito com vacinas e a documentação. Levei tudo, pois fomos para um lugar rural”, observa. O zelo faz sentido e tem a aprovação de veterinários. “Tutores devem se atentar ao destino, já que há regiões endêmicas. É preciso estudar o local e ver se há riscos para a saúde do animal”, diz Jade.

O bem-estar também foi prioridade para a jornalista Bárbara Muniz, 38, que se mudou de São Paulo para Ottawa, no Canadá, em 2022. A burocracia para levar os gatos Felix Felini e Chess, ambos de 13 anos, foi tranquila. “Contratei uma veterinária que fez todo o processo: vacinas, microchipagem, certificado de vacinação em inglês e o atestado de saúde.”

A parte difícil foi ver que embarcar sozinha com dois não seria possível, pois a companhia escolhida permitia um animal por pessoa. E despachá-los no porão estava fora de cogitação. “Ouvi tantas histórias que os bichos eram maltratados, que desisti. Quatro meses depois, um casal de amigos que estava vindo para o Canadá trouxe os gatos na cabine. Só precisei fazer uma autorização no nome deles”. Enfim, a família se reuniu em Montreal para encarar mais cinco horas de trem até Ottawa. “Eles foram muito corajosos”, elogia Bárbara.

“Tutores devem se atentar ao destino, já que há regiões endêmicas. É preciso estudar o local e ver se há riscos para a saúde do animal” Jade Petronilho, veterinária

Diante de histórias como a de Felix e Chess, percebe-se a necessidade de adaptações para que pessoas transportem seus amigos de quatro patas com tranquilidade e facilidade. A veterinária Jade observa a responsabilidade dos humanos para cada conquista: “Estamos avançando nessa questão do pet friendly. Mas ainda há o problema do tutor ter consciência de como se portar. E quanto mais pets educados tivermos, mais fácil conseguiremos frequentar os lugares com eles”.