Um tesouro da Alta Idade Média acaba de vir à tona: duas tiras de folha de ouro, quatro pingentes em forma de lua crescente do mesmo metal e 39 pequenas moedas de prata. Descoberto há dois anos pelo historiador Lorenzo Ruijter, os itens acenderam o brilho dos olhos pesquisadores. “É bonito ver o que foi encontrado, mas ele não está dessa forma que vemos. Está abaixo de camadas de História, várias construções, migrações de terra”, explica o professor de História da Estácio, Rodrigo Rainha. Ao utilizar um detector de metais, o holandês se deparou com os vestígios do século 13, em Hougwood, no norte do país. A tecnologia permite a busca dos objetos por lugares diversos e pelo tempo necessário: “Demorou 17 anos para ele ter essa sorte”, diz a curadora de coleções medievais do Museu Nacional de Antiguidades da Holanda, Annemarieke Willemsen. “Ele achou poucas moedas e algumas latas de Coca-Cola, mas seguiu acreditando que havia algo lá.” Em entrevista à ABC News, Lorenzo falou sobre a possibilidade de pertencerem a um soberano, que teria escondido os materiais para protegê-los. Assim como o “Tutancâmon britânico” descoberto pelo arqueólogo Basil Brown, em 1938, mote do filme A Escavação, de 2021.

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Annemarieke admira o trabalho árduo e a dedicação de seu conterrâneo, e comemora a oportunidade que o museu terá de analisar as peças históricas e levá-las a público: “É o pequeno pedaço de um sonho, algo que nos conecta ao passado”. Rodrigo concorda: “A Arqueologia dialoga com o passado, que geralmente é entendido como algo estático. Mas ela é plural”. A descoberta dos tesouros ainda ilumina um período um pouco obscuro dos Países Baixos: “As joias mostram que as pessoas daquele tempo tinham dinheiro e poder, além de conexões com o Império Bizantino, por exemplo. Indica que a Holanda, um país pequeno e periférico no mundo, era parte de uma rede mundial”, orgulha-se Annemarieke. Para Victor Missiato, doutor em História e professor do Colégio Mackenzie Tamboré, as relíquias que tinham lugar embaixo da terra podem chamar a atenção para evoluções além-mar: “Talvez com elas a gente acabe recriando um pouco os movimentos de expansão marítima e a produção material do Período Medieval para além de Portugal, Espanha e Inglaterra, colocando os Países Baixos dentro desse sistema de intercâmbio comercial”. Para Rodrigo, é fundamental expandir também a relevância dos artefatos, que se sobrepõe ao status de riqueza: “Sempre imaginamos um tesouro da humanidade por meio de um atributo financeiro, mas ele tem um valor intrínseco, relacionado a ser uma peça antiga e uma parte da História. É aquilo que, de maneira ampla, nos permite pensar sobre as sociedades humanas em todo o mundo”. É um diálogo do tempo passado com o presente, como afirma Victor. “Somos parte de algo contínuo desde a primeira marca de mão na parede de uma caverna” – essa é a frase proferida pelo personagem Brown, interpretado pelo ator Ralph Fiennes no filme A Escavação.

Hoje com 27 anos, o dono do novo achado começou suas primeiras incursões ainda criança, aos dez anos de idade: “Espero que, como ele, outros jovens se envolvam com a Arqueologia”, diz a curadora. Ruijter segue em plena atividade. O conjunto de preciosidades, que será exibido no museu até junho, será integrado a uma nova exposição em outubro.