16/09/2022 - 9:30
Mesmo com o clima eleitoral polarizado e tenso, chama a atenção a boa performance da Bolsa. A B3 tem se destacado e atrai investidores. Nos dois primeiros meses da campanha eleitoral, o índice Ibovespa registrou a segunda maior alta na comparação com as demais eleições presidenciais dos últimos 20 anos. De julho a agosto, a expansão foi de 11,14%. O índice passou de 98.542 pontos, em 1º de julho, para 109.523 pontos, em 31 de agosto. O resultado só foi superado em 2014, quando Dilma Rousseff (PT) foi reeleita.
Os principais candidatos já são conhecidos pelo mercado financeiro. Talvez por isso mesmo a Bolsa não esteja passando por grande volatilidade até o momento, o que, de acordo com especialistas, seria de se esperar num período pré-eleitoral. Na verdade, os agentes parecem estar num período muito mais técnico, olhando mais para os indicadores do que para o debate eleitoral. “Os preços não estão sendo alterados em relação ao candidato ‘A’ ou ‘B’, nem o dólar está em variação em relação às pesquisas e nem mesmo em relação aos juros”, avalia Paulo Cunha, CEO da iHUB Investimentos.
Essa alta pode ser explicada pelo fato de o Brasil ser hoje um dos países emergentes mais à frente na luta contra a inflação, argumenta o especialista de investimentos da Trax Investimentos Marcus Cardone. “Por estarmos habituados a lidar com a perda de valor da moeda, saímos na frente no mercado global, aumentando nossas taxas de juros enquanto países como os EUA tratavam a inflação como um fenômeno passageiro.” Segundo Cardone, isso faz com o Brasil hoje comece a registrar crescimento e a revisar o PIB para cima, o que acaba por atrair um fluxo estrangeiro forte de investimentos, principalmente em busca de ativos de risco. “Só em agosto passado, tivemos entrada de R$ 18 bilhões”, diz.

Além disso, segundo Cardone, o Brasil ainda aparece muito bem em relação a outras nações emergentes. O Chile, que sempre foi um destino de fundos institucionais, passa por reforma de sua Constituição, o que tem trazido muita volatilidade. A Rússia segue cheia de incertezas referentes à invasão da Ucrânia e às sanções que sofre. A China, que vinha prometendo um crescimento muito forte para este ano, não vai conseguir entregar resultados robustos por causa das paralisações em função do combate à Covid e, principalmente, pela crise no seu maior setor, o imobiliário.
Índice Bovespa tem a segunda maior alta em 20 anos no período pré-eleitoral comparando os dois primeiros meses da corrida eleitoral
Para William Eid, diretor do Centro de Estudos em Finanças da Fundação Getulio Vargas (FGV), é difícil traçar um padrão de movimentos na Bolsa em anos eleitorais. “A volatilidade depende muito da incerteza que a eleição traz. Os dois candidatos agora são vistos por muitos como ruins, e o Brasil não está numa situação fiscal confortável”, avalia. Como a maioria dos analistas, ele espera que 2023 também seja um ano complicado. “Já dá para ver que a tônica do momento, e dos próximos tempos, é a incerteza. Fazer alguma previsão sobre 2023, em particular da Bolsa, é um exercício no mínimo complexo”, alerta.
Os analistas são obrigados a traçar cenários, mesmo que os candidatos com mais chance de ganhar (Lula e Bolsonaro) não sejam claros em suas propostas econômicas. Uma maior volatilidade pode começar a ocorrer. Geralmente, o mercado é mais avesso a propostas que busquem controlar o Banco Central, revogar reformas e aplicar uma política antiprivatização, como defende a campanha petista. Essa expectativa pode fazer o mercado reagir negativamente, com aumento de câmbio e alta de juros. As falas pró-mercado visando reformas, ao contrário, podem levar tração ao mercado, trazendo altas da Bolsa e enfraquecendo dólar. O problema é que essas teses foram defendidas por Paulo Guedes no último ciclo eleitoral e, agora, o ministro está desacreditado mesmo que o presidente consiga se reeleger.
Previsões difíceis
Como previsões neste momento são muito difíceis, Eid indica que se tenha cautela, e o cuidado que se deve tomar é o mesmo de sempre: diversificar e conhecer as empresas em que se vai investir. “Ninguém quer perder um rally de Bolsa. Então mantenha um pouco de dinheiro lá, um pouco em renda fixa, um pouco em outros ativos como exterior, multimercados etc. Na incerteza, a diversificação pode ajudar, e muito”, resume.