14/07/2023 - 8:30
Bem-humorado e colorido desde a concepção, o projeto do filme Barbie teve início em 2018, quando a Warner Bros adquiriu os direitos da empresa Mattel. Quando Margot Robbie e Ryan Gosling foram anunciados no elenco, ninguém estranhou. Linda, loira e com o corpo escultural, a atriz australiana é o protótipo perfeito da boneca mais famosa do mundo.
Embora tenha participado de filmes mais sombrios, entre eles Blade Runner 2049 e Drive, Gosling também não foi nenhum choque: o galã precisaria apenas clarear as madeixas para interpretar com maestria o eterno namorado da boneca perfeita. A surpresa veio quando foi divulgada a dupla criativa por trás do projeto: a diretora Greta Gerwig e o roteirista Noah Baumbach, ambos indicados ao Oscar, formam um casal também na vida real. Mas muitos fãs se perguntaram: qual será a visão que Gerwig, feminista famosa por produções como Lady Bug e Little Women, e Baumbach, autor do melancólico História de um Casamento, vão apresentar sobre a boneca que já foi símbolo da mulher-objeto e do consumismo?

O filme de US$ 100 milhões tem o seu valor artístico, mas também pode ser visto como um belo investimento de marketing da Mattel, empresa que lançou a boneca no mercado há 64 anos. Faz muito tempo que se planeja um filme da Barbie, mas o risco de comprometer um produto tão popular sempre falou mais alto. As vendas em queda e a falta de engajamento com o público jovem aceleraram a decisão de levar a personagem às telas.
É aí que entram Greta Gerwig e Noah Baumbach: o talentoso e descolado casal era a escolha perfeita para dar credibilidade ao projeto, amansar a crítica e conquistar as novas gerações.

O enredo de Barbie é simples, mas tem seu charme. Ela e Ken vivem na Barbielândia, lugar impecável onde os dias são sempre felizes, tudo é rosa e a vida é de mentirinha. Quando coisas estranhas começam a acontecer, Barbie e Ken decidem viajar ao “Mundo Real”, onde irão conhecer “a verdade sobre o universo”. Quando chegam em Los Angeles, descobrem que existem roupas de outras cores (além de rosa) e que nem tudo é perfeito. Esse choque entre a terra da fantasia e a realidade acende um alerta na Mattel — sim, a própria empresa faz parte do roteiro —, que fica desesperada para colocar a boneca e o namorado “de volta à caixa”.
Há tempos um filme não provoca reação tão grande fora das telas. A “barbiecore”, como é chamada a paleta de cores relativa ao figurino e aos cenários do filme, entrou na mira de projetos de decoração e design em todo o mundo. Segundo o site Pinterest, usado para referências visuais, a pesquisa por “quarto com estética Barbie” aumentou mais de 1000% no último ano.

Esse exagero kitsch é parte do movimento “maximalista” que veio para se opor ao minimalismo vigente nos últimos tempos. Os admiradores mais dedicados vão poder ate mesmo ficar hospedados na cobiçada locação: a plataforma de Airbnb disponibilizou em seu catálogo uma casa interamente rosa, localizada em Malibu, na Califórnia. No Brasil, grandes redes varejistas já colocaram à venda coleções temáticas que vão além das roupas e calçados, chegando a lençóis, almofadas e utensílios de casa.
No Mercado Livre, as buscas por temas relativos ao filme cresceu 137% nos últimos três meses, em comparação com o mesmo período no ano passado. Todo esse sucesso, antes mesmo da estreia, mostra que Barbie deixou de ser um simples brinquedo — e virou um estilo de vida.
Da prateleira para as telas
A ideia de transformar brinquedos em cinema não é nova. Do clássico soldado GI Joe aos carros-robôs de Transformers, roteiros inspirados em produtos de sucesso costumam garantir bom público nas bilheterias.

Os filmes da Lego, franquia iniciada em 2014 e inspirada nos animes japoneses, viraram campeões de audiência. A própria boneca da Mattel já havia estrelado a animação Os Diários de Barbie, exibida na TV americana em 2006. A empresa gostou do resultado e montou uma estratégia agressiva para levar diversos produtos às telas.
Grandes nomes de Hollywood já estão interessados. Os carrinhos da Hot Wheels estão na mira do produtor J.J. Abrams; o dinossauro Barney tem o aval do ator Daniel Kaluuya; o fortão Vin Diesel se prepara para viver um robô em Rock’em Sock’em Robots. O longa mais aguardado, porém, é o que prevê Tom Hanks no papel do Major Matt Mason, o boneco-astronauta que vive na Lua. A luz verde para todos esses projetos, porém, depende do sucesso de outra cor — a cor rosa-choque de Barbie.