“Vacinas que não evitam uma doença e que já tem milhares de notificações de possíveis efeitos adversos graves incluindo a morte” Mayra Pinheiro (Capitã Cloroquina), médica (Crédito:DIDA SAMPAIO)

A hipótese de derrota de Bolsonaro no seu projeto de reeleição está cada vez mais palpável. Entretanto, com o fim do mandato de presidente da República não morre o bolsonarismo. O ex-capitão ainda tem força suficiente para eleger uma bancada razoável de parlamentares. Durante a pandemia, o mandatário viu que o Senado é a instituição em que houve maior resistência aos seus projetos retrógrados, e, por isso, é o seu principal foco, com o lançamento de candidaturas de aliados como ministros do seu governo que deverão receber o empenho de sua máquina eleitoral. Outros nomes com menor relevância serão alçados para Câmara dos Deputados e assembleias estaduais. O plano é ambicioso e pretende perpetuar a voz da extrema direita no Congresso. Embora esteja camuflada com a roupagem do conservadorismo, a pauta que unifica os bolsonaristas é o negacionismo. Por isso, o Planalto já escalou os seus mais fiéis seguidores para essa tarefa.

EXTREMISTA O deputado Daniel Silveira foi preso por atacar as instituições e defender a volta do AI-5 (Crédito:João Gabriel Rodrigues)

O deputado Daniel Silveira é uma aposta, ganhando respeito de Bolsonaro depois que ele afrontou o ministro Alexandre de Moraes, do STF, seu desafeto. O mandatário quer Silveira disputando uma cadeira de senador pelo Rio de Janeiro. Ele foi preso por ameaçar o STF e defender a volta do AI-5, que foi utilizado na ditadura do regime militar.

Agora fora do governo, o ex-ministro da Educação, Abraham Weintraub, e o ex-ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, também são soldados ideológicos do capitão. Ambos estavam na linha de frente do Planalto no auge das crises negacionistas, quando houve necessidade de se combater a Covid. Salles comemorou o momento de pandemia e disse, durante reunião ministerial de abril de 2020, que era hora de “passar a boiada”, referindo-se em aproveitar o período de crise e fragilidade social para aprovar leis contra a preservação do meio ambiente. Demitido, ele não tem o protagonismo que pretendia, mas mantém o apoio às pautas negacionistas. As articulações atuais são para que Salles seja candidato ao Senado por Rondônia, onde é acusado de colaborar com madeireiros no corte ilegal da floresta. Por sua vez, Weintraub percorreu o estado de São Paulo apresentando-se como candidato a governador. Há quem afirme que é apenas um balão de ensaio para chamar atenção e, também, sair candidato ao Senado. Afinal, o candidato de Bolsonaro ao governo é o ministro Tarcísio de Freitas. Weintraub espera ter apoio do bolsonarismo e é visto como um dos mais radicais, talvez mais extremista do que o próprio presidente.

Médicos que não honram o diploma estarão nas filas dos negacionistas junto ao presidente. Não faz sentido algum, mas a pandemia revelou profissionais da saúde que negam a ciência. A secretária de Gestão do Trabalho e da Educação do Ministério da Saúde, Mayra Pinheiro, ganhou projeção ao defender o uso de remédios ineficázes, como tratamento para combater o coronavírus e ficou conhecida por Capitã Cloroquina. A médica foi questionada pela CPI da Covid, mas utilizou do poder de fugir das perguntas. Em janeiro, ela escreveu no Twitter: “Vacinas que não evitam uma doença e que já tem milhares de notificações de possíveis efeitos adversos graves incluindo a morte”. Ela foi candidata ao Senado, em 2018, pelo Ceará e pode concorrer à Câmara. Pela Paraíba, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, é o desejo de Bolsonaro para o Senado.

A maioria dos candidatos sairá pelo PL de Valdemar Costa Neto, mesmo partido do presidente. A extensa lista ainda tem o filho do mandatário, o deputado Eduardo; as deputadas Carla Zambelli e Bia Kicis; a ministra da Mulher e Direitos Humanos, Damares Alves; e outra dezena de candidatos negacionistas. Eles vão se somar aos candidatos fisiológicos do Centrão (PP, PL e Republicanos), que apoiam o capitão.

Outros negacionistas não sabem ainda se vão subir no mesmo palanque do presidente, como é o caso da deputada estadual Janaina Paschoal. Ela tenta se aproximar do Planalto, mas a vaga ao Senado por São Paulo, que ela pleiteia, parece já estar reservada à ministra Damares. A bancada negacionista, portanto, pode se manter ativa no Congresso.