17/03/2023 - 9:30
Apesar de ter nascido em Málaga, no sul da Espanha, foi em Paris que o jovem Pablo Ruiz tornou-se Picasso. Descobriu a capital francesa aos 19 anos, em 1900, quando se mudou para um pequeno apartamento com o poeta Max Jacobs, o ambiente era de pobreza tão extrema que muitos de seus desenhos iniciais foram usados para acender o fogareiro, evitando que ambos congelassem. Eram tempos fervilhantes para as artes, quando o boêmio bairro de Montmartre sediava movimentos revolucionários e inovadores. Apesar da esperança, nem mesmo seus companheiros mais próximos, entre eles os escritores André Breton, Guillaume Apollinaire e Gertrude Stein, poderiam prever o sucesso que o espanhol atingiria décadas mais tarde. Hoje, seus quadros estão entre os mais valiosos da história, superando em leilões US$ 100 milhões por uma única obra.


É justamente na cidade que o gênio espanhol escolheu para viver que, meio século após sua morte, uma exposição magistral o celebra. Com a presença do presidente Emmanuel Macron e de Bernard Picasso, neto do pintor e diretor da fundação que administra seu acervo, o Museu Nacional Picasso-Paris inaugurou na semana passada a retrospectiva Uma Celebração a Picasso: A Coleção Ganha Cores. O evento tem direção artística de Sir Paul Smith, premiado designer que já projetou desde móveis a automóveis. Conhecido por seu sofisticado trabalho com tecidos e texturas, o britânico impôs o estilo pop com o objetivo de atrair o público jovem e fazer uma leitura contemporânea do material. “Aceitei o desafio com humildade. Foi uma experiência empolgante encarar esse trabalho de forma menos convencional”, afirma Smith no texto do catálogo.
O curador subverteu a ordem natural ao não expor as obras em paredes brancas (white cube), como seria o natural. Sua abordagem, segundo ele, seria mais condizente com o caráter transgressor do artista. “Essa viagem visual busca atrair quem não conhece bem o trabalho desse grande mestre”, afirmou Smith. “É um formato mais espontâneo e intuitivo.” As cinco mil obras do acervo surgem em meio a adereços e papéis de parede coloridos. Apesar de ser a maior, a iniciativa parisiense não será a única a celebrar a data: cerca de cinquenta instituições, da América do Norte ao Oriente Médio, prestam homenagens. Em seu país, os destaques serão as exposições em Málaga, sua cidade natal, e em Barcelona, na instituição para a qual o próprio pintor chegou a doar cerca de duas mil telas em óleo no início dos anos 1970.
A exposição também dialoga com peças de representantes contemporâneas, incluindo artistas negras como a nigeriana Obi Okigbo, a norte-americana Mickalene Thomas, e Chérri Samba, da República Democrática do Congo. A ideia é abrir uma discussão sobre feminismo e raça, temas que envolvem o nome Picasso – e nem sempre de maneira positiva. “Queremos trazer ao debate a sua relação com as mulheres”, afirma a presidente do museu, Cécile Debray. O pintor é geralmente acusado de tratar as companheiras de forma abusiva. A polêmica, no entanto, não impede que sua genialidade continue a ser apreciada meio século após sua morte.
Uma imersão em 3d nas obras do gênio

Tendência do universo das artes, as mostras imersivas vieram para ficar. Chega ao País Imagine Picasso, que reúne em São Paulo mais de 200 obras e dá ao público a chance de ver de perto detalhes de quadros como Les Demoiselles d’Avignon (ao lado), um dos trabalhos mais conhecidos de Pablo Picasso. Criada por Annabelle Mauger e Julien Baron, a exposição conta com projetores em 3D que exibem as obras em grande ampliação.