Apesar de ter nascido em Málaga, no sul da Espanha, foi em Paris que o jovem Pablo Ruiz tornou-se Picasso. Descobriu a capital francesa aos 19 anos, em 1900, quando se mudou para um pequeno apartamento com o poeta Max Jacobs, o ambiente era de pobreza tão extrema que muitos de seus desenhos iniciais foram usados para acender o fogareiro, evitando que ambos congelassem. Eram tempos fervilhantes para as artes, quando o boêmio bairro de Montmartre sediava movimentos revolucionários e inovadores. Apesar da esperança, nem mesmo seus companheiros mais próximos, entre eles os escritores André Breton, Guillaume Apollinaire e Gertrude Stein, poderiam prever o sucesso que o espanhol atingiria décadas mais tarde. Hoje, seus quadros estão entre os mais valiosos da história, superando em leilões US$ 100 milhões por uma única obra.

MESTRE E DISCÍPULO Pablo Picasso (abaixo) e o designer Paul Smith (acima): exibição menos convencional (Crédito:Divulgação)
Herbert List

É justamente na cidade que o gênio espanhol escolheu para viver que, meio século após sua morte, uma exposição magistral o celebra. Com a presença do presidente Emmanuel Macron e de Bernard Picasso, neto do pintor e diretor da fundação que administra seu acervo, o Museu Nacional Picasso-Paris inaugurou na semana passada a retrospectiva Uma Celebração a Picasso: A Coleção Ganha Cores. O evento tem direção artística de Sir Paul Smith, premiado designer que já projetou desde móveis a automóveis. Conhecido por seu sofisticado trabalho com tecidos e texturas, o britânico impôs o estilo pop com o objetivo de atrair o público jovem e fazer uma leitura contemporânea do material. “Aceitei o desafio com humildade. Foi uma experiência empolgante encarar esse trabalho de forma menos convencional”, afirma Smith no texto do catálogo.

O curador subverteu a ordem natural ao não expor as obras em paredes brancas (white cube), como seria o natural. Sua abordagem, segundo ele, seria mais condizente com o caráter transgressor do artista. “Essa viagem visual busca atrair quem não conhece bem o trabalho desse grande mestre”, afirmou Smith. “É um formato mais espontâneo e intuitivo.” As cinco mil obras do acervo surgem em meio a adereços e papéis de parede coloridos. Apesar de ser a maior, a iniciativa parisiense não será a única a celebrar a data: cerca de cinquenta instituições, da América do Norte ao Oriente Médio, prestam homenagens. Em seu país, os destaques serão as exposições em Málaga, sua cidade natal, e em Barcelona, na instituição para a qual o próprio pintor chegou a doar cerca de duas mil telas em óleo no início dos anos 1970.

A exposição também dialoga com peças de representantes contemporâneas, incluindo artistas negras como a nigeriana Obi Okigbo, a norte-americana Mickalene Thomas, e Chérri Samba, da República Democrática do Congo. A ideia é abrir uma discussão sobre feminismo e raça, temas que envolvem o nome Picasso – e nem sempre de maneira positiva. “Queremos trazer ao debate a sua relação com as mulheres”, afirma a presidente do museu, Cécile Debray. O pintor é geralmente acusado de tratar as companheiras de forma abusiva. A polêmica, no entanto, não impede que sua genialidade continue a ser apreciada meio século após sua morte.

Uma imersão em 3d nas obras do gênio

EXPERIÊNCIA Imagine Picasso: mostra permite a observação de detalhes dos quadros famosos em versões ampliadas (Crédito:Divulgação)

Tendência do universo das artes, as mostras imersivas vieram para ficar. Chega ao País Imagine Picasso, que reúne em São Paulo mais de 200 obras e dá ao público a chance de ver de perto detalhes de quadros como Les Demoiselles d’Avignon (ao lado), um dos trabalhos mais conhecidos de Pablo Picasso. Criada por Annabelle Mauger e Julien Baron, a exposição conta com projetores em 3D que exibem as obras em grande ampliação.