As estrelas estão sendo apagadas, pelo menos a olho nu e nas grandes cidades. Segundo estudo da campanha Globe At Night, a partir de 50 mil observações, o brilho do céu noturno aumentou quase 10% ao ano, de 2011 a 2022. A poluição luminosa se caracteriza pelo uso excessivo e inapropriado de iluminação artificial, que impede a visualização de componentes celestiais à noite. Suas consequências transcendem a observação estelar e recaem sobre a saúde humana e a preservação da fauna. Enquanto a postura de ovos das tartarugas marinhas e o acasalamento dos vagalumes são prejudicados, distúrbios do sono e alterações hormonais são sentidos no ciclo diário humano (circadiano).

Os prejuízos ambientais também vêm em cadeia. “Nos lugares de mais poluição luminosa há muito gasto de energia e emissão de CO2, então também é um indicativo de poluição da atmosfera”, lembra José Augusto Chinellato, professor do Instituto de Física da Unicamp.

Marcelo de Oliveira Souza, professor da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro e coordenador geral do Clube de Astronomia Louis Cruls, luta por um céu mais estrelado e conta que as discussões pró-iluminação excessiva se apóiam na segurança pública. Segundo ele, porém, é comprovado empiricamente que holofotes podem mais ofuscar do que clarear a visão. “O mais importante é o direcionamento. O ideal é que a lâmpada esteja para baixo e em ângulo pequeno, para permitir a iluminação na região próxima ao solo, que é onde as pessoas estão passando”, diz.

A solução vai além de transferir observatórios para locais inóspitos, e passa por estudo de sistemas e equipamentos, bem como investimento. “É possível ter um bom fluxo luminoso, com economia de energia e menos dissipação de calor para o meio ambiente”, fala Monica Dolce, arquiteta e urbanista, que acredita que faltem programas e políticas públicas que controlem a iluminação artificial.