10/03/2023 - 9:30
Se as armas utilizadas hoje em confrontos se tornam ultrapassadas em questão de meses, no antigo Império Romano as inovações bélicas se transformavam em verdadeiros legados utilizados por séculos – e instrumentos de defesa encontrados na Alemanha comprovam isso. Datados de cerca de 43 d.C. até 110 d.C, as estacas de madeira e o “arame farpado” são os primeiros exemplares preservados encontrados desse modelo de defesa que teria sido usado pelo ditador Júlio César um século antes.
O sistema de defesa revelado por essa descoberta consistia na abertura de valas e galhos afiados escondidos no solo que levariam os inimigos a caírem e serem mortos durante os confrontos. O imperador romano as idealizou para serem utilizadas em batalhas contra seus inimigos gálicos no território da atual França. Os itens encontrados protegiam o acampamento e os fortes de Bad Ems, que foram construídos no norte do Império cerca de 100 anos após a morte de Júlio César.
“Existia uma dificuldade de comunicação nessa época. As notícias demoravam muito para circular”, explica Gunter da Costa, historiador formado pela Universidade Estadual de São Paulo. “Mas Julio César era um líder muito carismático. Por isso, ele cativava as pessoas ao seu redor e sua popularidade foi se expandindo, assim como suas técnicas de combate”.
Como líder político, Júlio César se destacou pelas medidas sociais tidas como progressistas: além da doação de pão às classes mais baixas, a distribuição de terras foi marcante em seu governo. O modelo econômico baseado na escravidão que vigorava em Roma é um lembrete de que medidas não podem ser analisadas isoladamente. “A população romana em geral o aprovava, mas ele desagradava aos líderes do Senado, que temiam que César tomasse o poder de maneira centralizada”, pontua o historiador ao comentar o assassinato do ditador, em 44 a.C.
Os pesquisadores que escavaram o local onde o arame farpado e as estacas estavam enterrados deduzem que, por sua localização, esse sistema estaria instalado também para proteger os romanos que mineravam prata na região. Gunter diz que essa atividade fazia parte de um sistema econômico plural e baseado na obtenção de territórios. “Por ter incorporado vários povos ao seu, cada economia e cultura eram também adicionadas às do Império Romano. A prata era o foco nessa região da Alemanha, mas outros produtos, como feijão, vinhos e azeite, por exemplo, eram explorados também em outras partes”.

*Estagiária sob supervisão de Thales de Menezes