A culinária é um tema milenar, mas recentemente o ato de cozinhar ganhou outra característica: virou espetáculo. Desde que os chefs passaram a ter status de estrelas, a atividade cada vez mais tornou-se captada pelas câmeras, o que gerou uma explosão de reality shows, séries e programas de TV. Como era de se esperar, toda essa produção criou uma quantidade enorme de conteúdo irregular, com celebridades de todas as áreas querendo uma “boquinha”. Há artistas sérios, no entanto, que nos brindam com seu conhecimento em livros leves e divertidos.

MESTRE Stanley Tucci: amor pela comida italiana gerou uma publicação elogiada e série de TV (Crédito:Divulgação)

Um dos melhores lançamentos dessa safra é Sabor – Minha Vida Através da Comida, de Stanley Tucci, ator dos filmes Jogos Vorazes e O Diabo Veste Prada. Com uma prosa simpática e bem-humorada, ele narra episódios gastronômicos de sua família, assim como receitas que vão desde um coquetel Negroni a Costeletas de Cordeiro, passando por criações próprias, caso do Ragu Tucci, feito por sua avó materna. O que deixa o livro ainda mais apetitoso são os relatos ligados ao seu universo profissional, como os Martinis que ele costuma fazer para os diretores Peter Jackson e Barry Lavinson nos sets de filmagem. Ou os detalhes do cardápio do casamento da atriz Emily Blunt, na casa de George Clooney, no Lago de Como, na Itália, onde Tucci conheceu sua mulher Felicity, irmã da noiva. Ele ainda apresenta seu próprio programa de TV, Searching for Italy (Procurando a Itália), exibido pela CNN. Cada episódio da série trata da comida de uma região italiana e seus ingredientes, mostrando a diversidade dos paladares do país.

Outra personalidade de Hollywood conhecida por suas aventuras pelo mundo da culinária é a atriz Gwyneth Paltrow. Em seu primeiro livro, My Father’s Daughter (A Filha do meu Pai), ela compartilha 150 receitas caseiras do diretor Bruce Paltrow, um amante da boa mesa. Desde então, publicou outros cinco livros, todos com foco na saúde e consumo sustentável, valores que costuma promover na Goop, sua plataforma multimídia.

INTERNACIONAL  Sambista Diogo Nogueira: livro indicado a prêmio no exterior (Crédito:Divulgação)

Os chefs hoje são considerados rockstars, e às vezes isso é 100% literal. É o caso de Alex Kapranos, vocalista e guitarrista da banda inglesa Franz Ferdinand. Antes de ser músico, ele comandou uma cozinha, experiência que lhe rendeu, mais tarde, um convite para escrever para o jornal The Guardian. Com um ar mais informal que os sisudos críticos britânicos, Kapranos aproveita as turnês pelo mundo para alimentar sua coluna com impressões sobre pratos típicos e singulares – do sashimi de fugu, o venenoso baiacu, no Japão, aos exóticos testículos de boi, na Argentina. No Brasil, elogiou o churrasco gaúcho e o sorvete de milho verde. Os textos da coluna foram aperitivos reunidos mais tarde no elogiado livro Mordidas Sonoras.

Para Luiz Américo Camargo, curador e escritor de gastronomia, o mundo da comida tem sido um dos campos preferidos de atuação não apenas de gente conhecida, mas, também, de editores de livros, canais de TV e afins, sempre em busca de audiência. “A gastronomia é o mais acessível dos luxos. Uma Ferrari é para pouquíssimos; um bom jantar, não”, afirma o especialista. E cita seu exemplo favorito: “Veja o caso de Jon Favreau: o ator já foi dono de restaurante em Friends, interpretou um cozinheiro no filme Chef, depois criou seu próprio programa culinário e, hoje dedica-se a atuar apenas nas horas vagas. Com famosos como ele, certamente aprenderemos sobre técnicas e sabores.”

VIAJANTE Alex Kapranos, do Franz Ferdinand: roqueiro aproveita as turnês para alimentar sua coluna no jornal inglês The Guardian (Crédito:Divulgação)

No Brasil, um dos artistas mais bem sucedidos nessa área é o sambista Diogo Nogueira. Seu livro de receitas, Diogo na Cozinha, foi indicado ao Gourmand World Cookbook, importante premiação internacional em Madri. Ele concorre na categoria dos “Chefs-Celebridade”. Pensando bem, só o fato de haver uma categoria dessa natureza já comprova que a gastronomia virou, além de um fenômeno midiático, uma área faminta por atenção.