30/09/2022 - 9:30
Com o objetivo de potencializar suas economias, muitos novos investidores estão adotando a estratégia de diversificação de carteira e buscando aplicações alternativas. Antes vista apenas como uma forma de proteção de capital, hoje ela se faz fundamental para obter bons lucros. Investimentos diferenciados, como vinhos, joias, urânio, cannabis ou NFTs (tokens não fungíveis) se tornam cada vez mais interessantes e atraentes para investidores de todos os portes. O vinho, por exemplo, é um ativo que vem ganhando muita força. Fundos de investimentos atrelados ao produto e lastreados na bolsa de vinhos de Londres têm dado retorno de até 10% ao ano. O índice que acompanha os 1000 vinhos mais negociados no mundo (Liv-ex Fine Wine 1000) valorizou 47% em cinco anos. Em 2021, subiu 19% e, neste ano, avança 11,7%.

“Isso demonstra o quanto esse ativo é importante para diversificação”, avalia Eduardo Glitz, apaixonado por vinhos e pelas finanças. “Optei por vinhos porque percebi que existe um mercado de investimentos muito semelhante aos demais ativos, como commodities e até ações”, conta, explicando que para se aventurar nessa seara é preciso ter um conhecimento relevante sobre regiões produtoras, fabricantes e safras. “Os grandes investimentos são feitos por meio de leilões, o que exige um conhecimento relevante, além de um entendimento sobre a procedência da garrafa e seu estado de conservação”, destaca.
Outro ativo que tem ficado em evidência, principalmente por conta da guerra da Rússia-Ucrânia, é o urânio. Empresas relacionadas à extração do metal apostam no aumento da demanda. As aplicações estão no radar dos investidores pela capacidade de entrada em um mercado ainda pouco explorado, mas com tendência de crescimento.
“O ponto de partida desse ativo é baixo, o preço das commodities andou pouco, a demanda é previsível, mas é um investimento importantíssimo no portfólio”, diz Ruy Alves, gestor global da Kinea Investimentos, que começou a fazer suas aplicações em 2021, parou e voltou quando começou a guerra da Ucrânia.
Para o investidor, as sanções decorrentes da guerra devem reduzir a oferta de urânio, por perda da capacidade global de enriquecimento. A Rússia responde por 46% da capacidade de processamento de urânio mundial e fornece cerca de 1/4 dos serviços de contratados pelo Ocidente. “Com uma oferta mais restrita, uma demanda crescente e estoques próximos às margens de segurança, é questão de tempo para que o preço de urânio suba”, pondera Ruy.
Quem busca algo mais alternativo ainda pode aplicar em cannabis, o que também pode ser feito por meio de fundos tradicionais ou de ETFs. No Brasil há atualmente três fundos, dois da Vítreo, em que é possível comprar cotas por R$ 100 mais taxas de administração, e um terceiro da XP, lastreado no mercado internacional do produto e disponível para investidores em geral. Como são todos investimentos em renda variável, o ganho vai depender da evolução dos negócios, da percepção do público e do fluxo de compra e venda. Por isso, a planejadora financeira e professora de finanças na FGV, Myrian Lund, alerta que esses investimentos devem ser feitos de forma estratégica, esperando mais que apenas o lucro a curto prazo, uma vez que são ativos com baixa liquidez. “São todos mercados de renda variável e incertos”, explica.
Quanto às particularidades desses investimentos alternativos, Alexandre Milen, CEO da Harami Research, ressalta que esses ativos são novos e com alto risco. “Nós entendemos que realmente esse tipo de aplicação pode ser a tendência no futuro. Mas tudo é novo e é preciso grande cautela”, aconselha. Myrian também pondera que o investidor não deve apostar parte significativa dos seus recursos nesse tipo de ativo. Para se precaver, ela recomenda, como planejadora financeira, que os investidores definam um percentual de 10% (moderado) a 20% (arrojado) para serem aplicados nesses mercados. “Tudo depende do perfil do investidor e do desejo de diversificação e risco”, afirma.