A revista norte-americana Time, uma das mais conceituadas do planeta, já elegeu doze mulheres de 2023. Dentre elas está a brasileira Anielle Franco, ministra da Igualdade Racial. A sua irmã, Marielle Franco, foi assassinada a tiros, quando era vereadora no Rio de Janeiro, junto com o motorista Anderson Gomes. O caso ganhou repercussão internacional, até porque não há dúvida de que se trata de crime político. Aconteceu em 2018, até hoje os mandantes continuam intocáveis – existe a promessa do ministro da Justiça, Flávio Dino, feita ao pisar o seu gabinete no primeiro dia de gestão, de que agora a execução será completamente elucidada. A conferir.

Eis um trecho do perfil de Anielle publicado pela Time: “a ministra da Igualdade Racial do Brasil nunca planejou entrar na política. (…) A trágica história familiar, a personalidade calorosa e o uso hábil das mídias sociais transformaram Anielle (…) em uma líder improvável no movimento pelo direito dos negros no Brasil”.

A explicação de Time é irretorquível. A escolha de Anielle pela revista é uma valorosa e justa homenagem a todas as brasileiras pobres, a todas as brasileiras vítimas de preconceitos, a todas as brasileiras que sofrem com a violência masculina — violência masculina que não cessa de mostrar a sua cara de herdeira de nossa formação histórica patriarcal. Ao selecionar Anielle, a publicação dos EUA valorizou a luta de Marielle pela isonomia e democracia racial, e a luta da mulher em geral que, cotidianamente, toca o trem da sobrevivência para frente, no anonimato e na solidão de quem foi preterida pela sorte em um País que, embora mais plural, persiste em ser essencialmente não inclusivo — e no qual o homem se conserva prevalente nas mais diversas áreas de atividade.

Anielle, educadora como profissão, é a lídima tradução da democracia em seus diferenciados aspectos no recém-iniciado governo de Lula. Ela representa, ainda, as comunidades LGBTQIA+ e a socialmente esquecida população das regiões periféricas. Retornando, aqui, ao campo da política, mede-se no Brasil a condição feminina em um dos Poderes Republicanos, o Legislativo: a presença da mulher no Congresso Nacional está abaixo da média mundial, e isso em plena segunda década do século XXI. É muito longo e penoso o caminho que o País terá de trilhar para dar justiça social e condições de igualdade às mulheres em todos os campos de atuação. A ministra Anielle Franco é vital para que tal objetivo seja alcançado. Dixit: “tem sido um trabalho incansável, feito com muito afeto e amorosidade, para manter viva a memória de Mari”. Para nós, brasileiras e brasileiros, com a presença de Anielle, Marielle estará sempre conosco. E que o ministro Flávio Dino descubra, como prometeu em sua posse, os autores intelectuais do covarde assassinato de Marielle.