29/04/2022 - 9:30
Se uma das razões do aumento de ansiedade e estresse em crianças e adolescentes durante a pandemia foi o aumento excessivo da internet e redes sociais, espere até saber o que eles procuram nessas plataformas. A moda entre a faixa etária agora é escutar “drogas digitais”. Sim, escutar. Estimulada por influenciadores do TikTok, a ação consiste em ouvir uma simples música, de preferência pelo fone de ouvido. São tocados sons de frequências ligeiramente diferentes em cada audição – chamadas de “batidas binaurais’ – que geram a percepção de um terceiro som para o ouvinte. Elas são produzidas no iDoser, programa de computador que fabrica doses de ondas sonoras supostamente capazes de interferir nas ondas cerebrais do usuário. O resultado, supostamente, promoveria relaxamento, aumentaria a concentração, reduziria estresse, ansiedade e geraria efeitos alucinógenos para quem está escutando. Assim como as famosas melodias de água corrente, som de passarinhos cantando, barulho da chuva, que adultos utilizam para relaxar e, consequentemente, dormir.

Entretanto, diferente desses que realmente funcionam, as “drogas sonoras” dos jovens não passam de notícias falsas. Não há comprovação científica de que o som cause relaxamento ou efeitos alucinógenos, muito menos dependência, como são os casos das substâncias químicas. “A maior preocupação é com a intensidade e o volume do som. Os jovens escutam no máximo na tentativa de relaxar ou ter experiências alucinógenas, mas podem danificar ou até mesmo perder a audição”, explica a neuropsicóloga Priscila Sertori. O que os jovens podem vislumbrar é um efeito placebo: os adolescentes escutam as batidas querendo entrar em outro estado mental, e isso faz com que eles de fato se sintam mais relaxados. O risco, segundo Priscila, é que essas ondas sonoras possam ser a porta de entrada para milhares de jovens conhecerem os verdadeiros entorpecentes. “Eles já estão buscando alucinógenos, se não encontram, vão procurar em outros entorpecentes. Essas drogas virtuais são acesso para experimentar e desencadear o uso de drogas concretas. É um cenário preocupante e de cautela”, diz.
De acordo com estudo internacional publicado no periódico Drug And Alcohol Review, 5% da população já utilizou esse tipo de tecnologia. O Brasil, junto com os Estados Unidos, México, Polônia, Romênia e Reino Unido, está entre os países que mais fazem uso do falso alucinógeno. Com o aumento das buscas por “drogas digitais” na internet, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), emitiu um comunicado alertando para os perigos da nova tendência. “A estimulação exagerada e contínua pode ocasionar a perda da neuroplasticidade e assim, afetar as conexões necessárias para o desenvolvimento cerebral e mental saudável”, diz o comunicado.