Atrasou-se para sair da cerimônia e tinha de passar no Palácio do Planalto, rapidamente, e então seguir à base área de Brasília para embarcar com destino a cidade mineira de Jacinto, onde lançaria a pedra fundamental da BR-367. Valendo-se de seu histórico de atleta (só rindo), disparou a subir a rampa interna do palácio rumo ao seu gabinete no terceiro andar. Patinou, tropeçou nos próprios pés. Ai, que dor nos joelhos enferrujados do capitão!

Equilíbrio não é lá uma das características do presidente, e nesse ponto pode-se sair do campo da ortopedia e ir-se à esfera psíquica e emocional. Ao longo desse ano que se vai, ele mostrou-se desequilibrado na rampa de subida da pandemia, com declarações irresponsáveis; mostrou-se desequilibrado na rampa de descida em que acumulou derrotas no Supremo Tribunal Federal; mostrou-se desequilibrado na rampa também de descida de seu prestígio no apoio a candidatos nas eleições municipais. Tem mais. Desequilibrou-se ao ver a aprovação popular de seu governo levar um escorregão no início de dezembro, de 41% para 35%. Vale uma observação: o desequilíbrio do presidente não vem de agora. Basta olhar-se pelo retrovisor o primeiro ano de sua gestão, e, em um retrovisor mais largo, olhar-se as suas mais de duas décadas como parlamentar — mandatos cumpridos em meio a ofensas proferidas a seus colegas e suas colegas na Câmara dos Deputados. Dá para olhar-se aos tempos de caserna: um militar sem equilíbrio que acabou sendo passado para a reserva por insubordinação. O título “Ainda não foi dessa vez” não significa que se deseja que Bolsonaro volte a tropeçar e escorregar nas tantas rampas palacianas e se esborrache no chão. Nada disso. O que se deseja é que ele caia sim, mas caia do cargo e deixe de infernizar o Brasil com suas desequilibradas de temperamento.

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