Pizzaiola, assadora, sushiwoman, bartender: quantas vezes essas funções têm gênero feminino? Enquanto dentro de casa 96% das mulheres se dedicam à cozinha contra 62% dos homens, segundo o IBGE, apenas 7% dos principais restaurantes do País têm liderança feminina, de acordo com o site “Chef’s Pencil”. Somado às jornadas duplas ou triplas, muitas superam preconceitos e assumem cargos associados à figura masculina na gastronomia. “Comecei a gostar de cozinha fora de casa, porque tem diversidade. Você vê que não é aquilo que tem no ambiente da gente”, comenta a pizzaiola Rosângela Carvalho.

“Sempre foi a mulher que cozinhou em casa. E por que na hora do almoço de domingo ela não pode assar a carne?”, desabafa a assadora Ceci Matias, que realiza eventos e consultorias, além de ser criadora de conteúdo e ter um canal de churrasco no site de receitas TudoGostoso. Após 15 anos de carreira, os desafios de integrar um ambiente masculino permanecem, mas a maturidade deixou a trajetória mais amena: “Eu era briguenta, porque era a forma que tinha de me defender. Hoje tenho muito mais segurança.” Atualmente presta serviços em todo o Brasil, mas ainda ouve comentários como o de um rapaz que seria seu ajudante, há três anos: “‘Não é com você que quero ficar. Acho que não vou aprender muito’”.

Atingir a posição e ganhar estabilidade financeira fizeram parte de um caminho tortuoso percorrido pela pizzaiola Rosângela. No início, ela chegou a se deparar com um colega que largou o emprego por não querer trabalhar ao seu lado. Ou melhor, com ela no comando: “Os obstáculos começaram quando fui fazer o curso. Os homens não aceitavam que fizéssemos o serviço de bater e abrir massa, preferiam que fatiássemos os ingredientes”. Há oito anos à frente da Pizzaria Família Bressane, associada à Apubra – Associação Pizzarias Unidas do Brasil, prefere manter uma equipe feminina: “É impressionante dizer que o homem é o sexo forte, porque muitos se acham incapazes de varrer o chão, lavar a louça”.

ATRÁS DA GRELHA Ceci ganha lugar no mundo masculino: “Tem que ter paciência, não é fácil” (Crédito:Divulgação)

As barreiras existem, mas não são intransponíveis. Há esperança e força de vontade para garantir maior presença feminina nas cozinhas: no último ano, a melhor chef mulher da América Latina foi a brasileira Manu Buffara. “A gente tem que respeitar o outro e ser totalmente profissional, mostrar nosso trabalho e que o sexo feminino não é frágil”, pontua Ceci.