CRIME “Praia dos Ossos”: caso Ângela Diniz expõe cobertura parcial da época (Crédito:Divulgação)

As radionovelas se tornaram populares nos anos 1940, mas em 1951, quando “O Direito de Nascer” foi ao ar pela rádio Nacional, o Brasil viveu um fenômeno. Criada pelo cubano Félix Caignet, a obra hipnotizou o público e durou quase três anos. O sucesso levou a TV Tupi a transformar a história em novela — duas vezes, em 1964 e 1978. Em plena era tecnológica, o formato somente em áudio foi resgatado pelas plataformas de streaming. “Paciente 63”, nova áudio-série em dez episódios produzida pelo Spotify, nada mais é que uma boa radionovela com produção mais sofisticada. E não há nada de errado com isso — apenas reforça a ideia de que o público vai atrás de boas tramas, não importa o meio.

Estrelada por Mel Lisboa e Seu Jorge, “Paciente 63” narra a saga de um homem viajando no tempo para alterar um fato que vai provocar o fim do mundo. O enredo não é dos mais originais, mas a boa interpretação da dupla e o ótimo texto cumprem o papel de prender a atenção do público. O autor é o chileno Júlio Rojas, premiado roteirista de cinema que agora se dedica ao conteúdo em áudio inspirado pelas memórias da infância. “Ao contar uma história para uma criança, ela tem de criar as cenas na sua cabeça”, diz Rojas. “O ser humano usa a imaginação desde a época em que as sociedades primitivas se reuniam ao redor do fogo.”

O roteirista acredita que a pandemia vai acelerar a popularização das áudio-séries. “Cansamos de telas e reuniões por Zoom. Ouvir uma boa história enquanto cozinhamos ou andamos de bicicleta é uma experiência que valoriza a intimidade.” Em meio à pandemia, o teatro também se rendeu: trupes tradicionais como o Grupo Galpão, o Teatro Oficina e a Cia O Grito aproveitaram o período sem peças presenciais para lanças suas próprias radionovelas.

“Cansamos das telas e reuniões por Zoom. Ouvir uma boa história é uma experiência que valoriza a intimidade” Júlio Rojas, roteirista (Crédito:Divulgação)

Sucesso de público

Não é apenas a ficção que encontrou nas áudio-séries um modelo atraente. O podcast “Praia dos Ossos”, da Rádio Novelo, já teve mais de dois milhões de downloads. Criado pela jornalista Branca Vianna, relata o assassinato de Ângela Diniz por seu namorado, Doca Street, caso que abalou o Brasil em 1976. A série, em oito episódios, não lembra apenas o crime em si, mas a cobertura parcial da imprensa, que quase transformou a vítima em culpada. Assim como aconteceu em “O Direito de Nascer”, “Praia dos Ossos” vai ganhar adaptação: a produtora Conspiração adquiriu os direitos e a trama será adaptada em uma série de ficção. A radionovela, mais uma vez, vai parar na TV.