O xadrez é um jogo de estratégia em que antecipar o próximo passo do adversário é crucial para a vitória. Cibele Florêncio, de 24 anos, natural de Macaíba, no Rio Grande do Norte, sabe disso muito bem. O que a ex-diarista nunca poderia prever era o movimento que, fora dos tabuleiros, mudaria sua vida para sempre. Dividida entre os bicos como faxineira e a ajuda a mãe com o serviço de marmitas, ela sempre arranjou tempo para o jogo milenar, sua maior paixão. O talento e a determinação a levaram a disputar o Campeonato Mundial de Xadrez em Varsóvia, na Polônia, competição que a coroou como uma das melhores enxadristas do País.

De volta ao Brasil, ela só tem elogios ao alto nível de suas adversárias. “São grandes mestras, as melhores do mundo. Com o meu trabalho como faxineira, não sobrou muito tempo para treinar. Sou uma iniciante, fui lá para aprender”, diz, com humildade. Mesmo sem patrocínio, treinador ou equipe, a potiguar venceu o campeonato estadual e foi vice-campeã brasileira. Sua viagem ao exterior, possível somente graças às doações que recebeu, foi fruto somente de seu empenho pessoal: Cibele treinava com a irmã, durante a noite e só quando sobrava tempo. Hoje, porém, as coisas são diferentes. “Minha vida mudou completamente, todo mundo quer conversar comigo. Tenho a oportunidade de entrar em uma faculdade. Os caminhos estão se abrindo.” Cibele ganhou uma bolsa de estudos e vai cursar Educação Física. Ela também deixará o trabalho como faxineira para treinar em tempo integral – agora só falta encontrar um bom treinador.

O xadrez surgiu na vida de Cibele ainda na infância, quando ela começou a praticar o jogo na escola. Interessou-se em disputar partdas, amadoras ou não. É na escola, aliás, que muitas crianças têm o primeiro contato com o tabuleiro. Se para alguns é só matéria escolar, para outros o xadrez acaba virando paixão. Foi o caso do estudante Diego Sashaki Haraguchi, de 13 anos. “No início, quando eu tinha oito anos, não gostava muito de jogar. Depois as coisas mudaram”, afirma.

Considerado um prodígio no Clube de Xadrez de São Paulo, Diego treina no local e joga online com competidores do mundo inteiro. Em um caso raro na sua idade, diz que prefere o xadrez ao videogame. “Ainda não sei o que vou ser quando crescer. Só sei que gosto de jogar xadrez”, diz. Celso Freitas, presidente do clube, diz que o número de praticantes jovens aumentou na pandemia e tem crescido desde que os eventos reabriram de forma presencial, em setembro. “É legal ver essa garotada se interessando por algo tão antigo, sem conexão com a internet e que ainda ajuda os adolescentes na hora da tomada de decisões”, comemora.