Christian Louboutin, um dos maiores nomes no setor da moda de luxo, prepara a inauguração de seu primeiro projeto hoteleiro. Localizado em um pequeno vilarejo em Melides, a uma hora e meia de Lisboa, o empreendimento foi nomeado em homenagem à marca registrada do designer francês: Vermelho. A cor está na sola dos sapatos, nas bolsas e até nas coleiras de cachorro assinadas por ele. Aos 60 anos, o estilista passa as férias na Península Ibérica desde a década de 1990, onde possui duas casas: uma na capital portuguesa e outra na Comporta, cidade próxima à vila que abrigará o empreendimento. A sua relação com o lugar específico, entretanto, só começou há doze anos. Ele conta que, após sofrer um acidente e ser encaminhado a um hospital próximo à localidade, estava voltando para sua casa quando se deparou com um pequeno conjunto de casas embrenhado em uma floresta. Encantado pela atmosfera colonial do local, quis fazer ali o seu refúgio. Em 2019, decidiu começar a expandir seu apreço pela casa de pescadores comprada na região e atrair pessoas de todo o mundo para conhecerem o ambiente. Nascia, assim, o Vermelho. “Este projeto permite-me esvaziar o meu armazém cheio de antiguidades e objetos que tenho comprado ao longo de muitos anos. Além disso, é uma oportunidade de mostrar a excelência de muitos artistas e artesãos que admiro”, afirmou Louboutin, em material divulgado pela assessoria do artista. Ele convidou arquitetos e decoradores para compor as instalações, que mesclam referências europeias e egípcias – outra descendência do estilista.

O Vermelho, porém, está bem longe de ser pioneiro no movimento das grifes mundiais de luxo em direção ao ramo hoteleiro. Um ano antes de Louboutin sequer conhecer Melides, em 2010, Giorgio Armani abriu seu primeiro investimento do tipo: o Hotel Armani Dubai. No caso do italiano, as dependências luxuosas não são o único atrativo; o estabelecimento fica localizado no prédio mais alto do planeta, o Burj Khalifa. “O design elegante é diferente até mesmo de outros hotéis de luxo de Dubai, que buscam seguir um estilo arquitetônico árabe, mais ligado ao dourado”, conta o influenciador digital, Lucas Amadeu, que tem uma plataforma de vídeos de viagem. “Eu não tinha muita relação com a Armani, mas, depois de me hospedar lá, passei a consumir mais a marca.”

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VERMELHO LOUBOUTIN Proposta intimista: com apenas 13 quartos, em vilarejo próximo a Lisboa, designer francês expande seu refúgio para mais pessoas; a cor vermelha, principal referência do artista, permeia a instalação

O professor de arquitetura da Faap, Roberto Fialho, explica que os produtos da moda e as instalações dos hotéis das grifes não precisam ter associações estéticas diretas. “Nesses casos, a criação de uma ambiência própria, pensando no estilo de vida dos consumidores, é mais relevante”. De uma forma mais ampla, precisam conversar com o universo das marcas. “A experiência de usar um produto e entrar num hotel são parecidas emocionalmente. Aqui, conversamos com o intangível”, comenta Celina Bühler, professora do Hub de Moda e Luxo da ESPM.

Encantado pelo The Savoy London desde que trabalhou como carregador de malas na terra da rainha, Guccio Gucci também deixou sua marca no setor hoteleiro, em 2021, ao decorar minuciosamente a maior suíte do famoso local, em comemoração aos 100 anos de sua grife. De acordo com Luiz Trigo, professor de Turismo e Lazer da USP Leste, esses lugares são feitos para aqueles que procuram perfeição. “Os hóspedes de luxo buscam quatro pontos principais: segurança, tempo, espaço e exclusividade”. A também italiana Bulgari instalou seu resort em uma pequena ilha artificial próxima ao centro de Dubai, fugindo da firmeza dos arranha-céus e se aproximando de outra riqueza do emirado árabe: o oceano. Inspirada nas tradicionais vilas italianas à beira-mar, a obra traz referências tanto aos mais antigos corais da costa quanto às clássicas joias da marca. Para Bühler, esse é o ponto que o diferencia dos demais. “Uma grife de luxo brinca com o tempo. Ela utiliza da tradição passada para criar no presente novos conceitos que serão marcantes no futuro.”

CLÁSSICO ARMANI No topo: sinônimo de requinte sóbrio e moderno, empreendimento fica no maior edifício do planeta, o Burj Khalifa, em Dubai; quem se hospeda pode usufruir de três mirantes, além de spa, bar e restaurantes exclusivos

LUXUOSA GUCCI Ícones unidos: ocupando todo o quinto andar do The Savoy London, a Royal Suite by Gucci une características marcantes dos produtos sofisticados com o charme do histórico hotel londrino

JOIA BULGARI Oásis urbano: resort se ergue em ilha perto da cidade do emirado árabe; arquitetura e decoração inspiradas nos corais, nas vilas italianas, nas riquezas do Oriente e nos elementos típicos

* Estagiária sob supervisão de Thales de Menezes