País com uma forma de governo peculiar em que o Parlamento pode destituir o presidente e o presidente pode dissolver o Parlamento, o Peru chegou ao caos. Em estado de emergência depois que o presidente Pedro Castillo tentou um autogolpe e foi preso, violentos protestos eclodiram. Aeroportos e usinas hidrelétricas foram tomados pelas Forças Armadas. A vice, Dina Boluarte, assumiu as rédeas do desgoverno. Chamada de “ladra” pelo ex-aliado deposto e sem contar com o reconhecimento de vizinhos como Argentina, Bolívia, Chile e México, restou a ela propor eleições antecipadas ao Congresso, onde não tem maioria para aprovar reformas. Previsto para abril de 2024, o pleito pode empurrar a espinha política para a goela do próximo presidente. Que será o sétimo desde 2016.

CAOS Primeira mulher a presidir o país, Dina Boluarte defende eleições em abril de 2024 (Crédito:LUIS IPARRAGUIRE)

Castillo teve pouco mais de 10% de votos no primeiro turno. Só venceu Keiko Fujimori no segundo pela altíssima rejeição da candidata. Com o país dividido, a esquerda fragmentada, oposição do empresariado limenho e de extremistas de direita como Rafael López Aliaga, prefeito de Lima chamado de “Bolsonaro peruano”, o ex-mandatário não conseguiu governar. Empossado em julho de 2021, já está na lista macabra de 30 anos de presidentes depostos e/ou presos (um deles, Alan Garcia, se suicidou).

A tentativa bisonha de reprisar o autogolpe de 1992 de Alberto Fujimori foi um fracasso anunciado. Literalmente. Na tentativa de escapar do terceiro pedido de impeachment por corrupção, Castillo foi à tevê em 7 de dezembro dizer que dissolveria o Congresso (onde não tinha maioria) e instauraria estado de exceção para governar apenas com decretos-leis. De bate-pronto, o Congresso votou pela destituição do presidente, que foi preso em Lima por seus próprios seguranças.