26/11/2021 - 9:30

Aos 95 anos, Elizabeth II mostra, no Reino Unido, que continua a dominar com mão de ferro a casa real. Em uma nova disputa, passou a atacar a BBC, a TV pública britânica, por expor a briga entre seus netos. Enquanto William mantém a discrição e cultiva uma imagem zelosa da tradição real, Harry enfrenta uma tempestade de críticas desde o casamento com a atriz norte-americana Meghan Markle. O episódio acendeu um rastilho de pólvora, e cada duque foi para um lado. Apesar dos indícios de ter seu casamento estremecido, William mantém a compostura de um futuro ocupante de trono real. Já Harry se bandeou com a mulher para o Novo Mundo e perdeu o status real por decisão da avó.
Harry anteriormente havia desafiado a família em uma entrevista que concedeu nos EUA à apresentadora Oprah Winfrey, levada ao ar em março. Nela, falou do racismo que a mulher sofreu, dos pensamentos suicidas da esposa e de cortes financeiros a que o casal foi submetido. O mais novo capítulo da querela é o documentário “The Princes and the Press” (O príncipe e a imprensa), que trata da rivalidade dos príncipes-irmãos e da briga que se escancarou, o que enfureceu a rainha. Em nome dela, o príncipe herdeiro Charles e seu filho Wiliam decidiram não apenas “romper” com a BBC como cessar qualquer cooperação (com entrevistas, por exemplo) ou apoio a futuros projetos (financeiro, inclusive). O príncipe Charles teria se reunido com representantes da BBC, levando a reivindicação da família de assistir previamente ao programa.
Esse pedido foi negado e a emissora já mostrou o primeiro capítulo (de dois) na segunda-feira 22. Nele, é retratada a nova geração real, destacando o período entre o jubileu da rainha, em 2017, e o casamento de Harry e Meghan, em 2018. É exposta a diferença de caminhos escolhidos pelos dois irmãos para lidar com a mídia. E também como a indústria jornalística voltada à cobertura da realeza se vale de ilegalidades para arrancar notícias exclusivas. O segundo e último episódio, que vai até o nascimento de Archie, filho de Harry e Meghan, foca em viagens familiares e irá ao ar nessa segunda-feira 29.
Foram meses para montar o roteiro com mais de 80 horas de imagens e entrevistas. O programa é apresentado por Amol Rajan, um jornalista controverso entre os colegas e claramente contrário à existência da realeza, que considera absurda. No documentário, explora-se o comportamento dos irmãos, que por intermédio de “cortesãos” espalhariam difamações respectivas uns dos outros, em uma “violenta guerra de briefings”. Os dois negam. Para avivar a fogueira, veio à tona a revelação de Omid Scoble, biógrafo do casal Harry e Meghan, de que William e sua trupe foram responsáveis por vazar o histórico de saúde mental de Harry. Os irmãos, no entanto, teriam se unido contra essa liberação — afinal cortada de outro documentário, “Harry and William: What Went Wrong?”, exibido em junho pela emissora ITV.

Lady Di
Na indústria de fofocas, a relação entre os príncipes parece ser uma sucessão de tapas e beijos. Amor e ódio também imperam entre a realeza e os jornalistas. A tensão remonta ao início do mandato da rainha e envolve outros membros da família, como a princesa Margaret, sua irmã, que foi a primeira a despertar os tabloides para sua vida privada desregrada. Alice de Battenberg, mãe do príncipe Philip de Edimburgo, era escondida da mídia, pois tinha sido diagnosticada com esquizofrenia e foi internada em manicômio. Isso, apesar de sua biografia emocionante: trabalhou para a Cruz Vermelha, resgatou judeus do nazismo, fundou uma ordem religiosa e distribuiu seus bens.
Se a sogra vivia longe dos holofotes, as novas gerações não cessaram de trazer problemas para a rainha. No início de 2021, o príncipe William reclamou da BBC uma providência sobre uma entrevista bombástica exibida com sua mãe, a Lady Di, em 1995. Esse episódio marcou o fim do casamento de Charles e Diana e colocou a opinião pública contra a família real. A emissora, no fim, pediu desculpas, depois de o herdeiro acusar o apresentador de mentir para obter exclusividade. O novo incidente com os netos mostra que o mundo contemporâneo é muito mais complicado para Elizabeth II que foi para sua tataravó, a rainha Vitória. No século XIX, não havia TV.