24/02/2023 - 9:30
Com 59 deputados, o União Brasil está formando uma federação com o Progressistas (PP), que conta com 49 deputados, para alcançar a maior bancada na Câmara, acima inclusive do PL, que até agora é o maior partido no Congresso, com 99 parlamentares. Com essa demonstração de força, a legenda presidida pelo deputado Luciano Bivar (PE) quer se unir a Arthur Lira (PP-AL) e Ciro Nogueira (PP-PI) para pressionar Lula a lhe conceder mais cargos no governo. É bem verdade que seu partido já tem três ministérios, mas esses postos não contemplaram todos os integrantes da sigla, que alegam que o beneficiário da adesão do partido à gestão petista foi o senador Davi Alcolumbre (AP). As demais lideranças da agremiação, incluindo Bivar, não se sentiram representadas pelos cargos públicos e agora querem ter o comando de estatais importantes, como é o caso da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) e do Departamento Nacional das Obras contra as Secas (Dnocs). A junção com o PP dará ainda mais poder para o grupo, que já teria a garantia dessas empresas para administrar. Quer, ainda, a recriação da Funasa.
Essa divisão por cargos aumentou as intrigas internas, que dificulta a unificação partidária, mesmo após a articulação da federação com o PP que deve ampliar o “super poder” do grupo no Congresso e dar cargos para o núcleo que ficou de fora da partilha inicial por vagas no governo. É que a aliança ignora disputas regionais – que também se tornaram dor de cabeça para os integrantes dos partidos. Fontes revelaram à ISTOÉ que estaria havendo um desentendimento entre o vice-presidente do União, Antonio Rueda, e o presidente Bivar, que é tido como o maior defensor de uma adesão inconteste ao governo federal, mesmo adotando declarações públicas cobrando mais espaço na gestão petista. “Faz parte do joguinho”, destacou um parlamentar. Rueda, por seu lado, atua no sentido de pedir independência e “liberdade” do partido quanto às ações do governo Lula.

Racha no partido
A bancada passou a agir em diferentes frentes de ataque e defesa para se consolidar como peça importante na atual crise por espaço dentro do governo. Davi Alcolumbre (AP) também faz intermediações para apaziguar o partido, mas vem enfrentando resistências de parte da direção partidária. Ele até é bem visto pelos colegas do Senado, principalmente pela efetiva participação na reeleição de Rodrigo Pacheco (PSD-MG) e na articulação para compor o ministério de Lula. Afinal, no Senado a federação do União com o PP passaria a ter 15 senadores (nove do União e seis do PP), tornando-se a segunda maior bancada na Casa (o PSD tem 16), um trunfo que os governistas também acham interessante e atribuem o sucesso da operação ao ex-presidente do Senado. Na Câmara, porém, o nome do parlamentar não é música para os ouvidos de ninguém. Muitos integrantes do partido dizem não desejar conversar com Alcolumbre e o acusam de agir “como se o partido fosse dele”.
Em geral, membros do União Brasil estão irritados também com o posicionamento da presidente do PT, Gleisi Hoffmann. Para os dirigentes da agremiação, a petista “não está entregando o que prometeu”. O consenso observado é muito diferente das expectativas dos interlocutores de Lula. Para os petistas, a cobrança é descabida, pois não ocorreu nenhuma votação para testar esse apoio. A maioria da bancada do União Brasil avalia que os ministérios chefiados pela sigla são a garantia da abertura de um canal de diálogo com as pautas governistas, mas isso não significa que os parlamentares votarão em peso alinhados às propostas petistas. No Senado, dos nove senadores, pelo menos quatro são avaliados como independentes, entre eles, a professora Dorinha Seabra (TO). Já na Câmara, dos 59 deputados, pelo menos 15 se declaram oposição, 20 independentes e os demais propõem um diálogo “franco e aberto” com o Executivo. “Temos reuniões periódicas com as lideranças do partido e não temos visto essa desunião. Pelo contrário, o União Brasil está coeso e disposto a aprovar uma pauta que defenda os interesses do Brasil”, comentou o deputado Coronel Ulysses (AC).

O líder do União no Senado, Efraim Filho (PB), porém, disse enxergar atualmente um “partido fortalecido” e reforçou a proposta de independência dos integrantes. Segundo ele, é necessário estabelecer a “liberdade do poder de divergir” em pautas desalinhadas com ideias da centro-direita. “Para que o partido não se enfraqueça, não perca quadros, a posição política que melhor dá conforto à bancada é a da independência, permitindo que aqueles que queiram ter um canal de diálogo mais próximo com o governo possam fazê-lo, mas respeitando aqueles que se elegeram com o discurso de oposição e querem manter essa linha de coerência”. Um racha que ainda vai dar o que falar.