Alçada pelo MDB à disputa pelo Palácio do Planalto, Simone Tebet tem a missão de contornar um fenômeno recorrente no partido: a cristianização. Nova cara da terceira via, a senadora sul-mato-grossense reconhece não ser unanimidade na própria sigla, caracterizada pelo lulismo no Nordeste e bolsonarismo no Sul, mas argumenta que a legenda precisa de uma candidatura própria justamente em razão das peculiaridades regionais. “Sem ela, o MDB cairia no colo da polarização”, pontua. Emedebista há 25 anos, Simone diz ter Michel Temer como um dos principais conselheiros e refuta a chance de, em uma reviravolta, o ex-presidente assumir a cabeça de chapa. “Ele já está participando do meu projeto”, conta. Com a oficialização da pré-candidatura, a senadora quer, agora, ampliar o arco de alianças e revela não ter desistido de contar com o União Brasil, de Luciano Bivar, em seu projeto eleitoral. Com 2% das intenções de votos, a parlamentar ocupou os postos de prefeita, deputada estadual e vice-governadora antes de chegar ao Senado. Apesar das raízes, não está na lista de figurões conhecidos pela população. Para gravar o nome na memória do eleitorado, Simone pretende apostar em uma extensa agenda de viagens pelo País e na propaganda partidária do MDB.

A senhora se consolida à frente da terceira via a apenas quatro meses das eleições. Há como construir uma candidatura competitiva em tão pouco tempo?
Essa é uma campanha na qual os dois candidatos que estão despontando são os dois com os maiores níveis de rejeição. Consequentemente, temos franjas muito amplas de ambos os lados. A franja, a meu ver, é até maior do lado do Bolsonaro. Há votos muito frágeis das pessoas que pensam: ‘Ah, já que não vai ter terceira via, deixa eu resolver logo a eleição’. Quando a terceira via se fortalece e se unifica em torno de um nome, as pessoas começam a ver a possibilidade de votar realmente por convicção.

Um dos seus principais desafios é se tornar conhecida. Quais são os planos?
Temos viagens programadas. A próxima será para o Rio Grande do Sul, onde teremos o primeiro contato na reunião do programa de governo. Quero ir a Sergipe, onde Alessandro [Vieira] vai lançar a candidatura dele ao governo. As viagens aos estados são muito importantes para a questão local. Além disso, nacionalmente falando, cada movimento do centro ajuda a projetar a candidatura na imprensa e a mostrar para a sociedade que há outros nomes na disputa. Sempre que ocorrem esses momentos de unificação, é impressionante como aumentam as pesquisas no Google sobre nós. O terceiro caminho é com as inserções da propaganda partidária na TV e no rádio, que deixamos para este mês de junho.

O MDB é um partido de grande diversidade intrapartidária e, justamente por isso, não há unidade em torno de seu nome. A senhora crê na homologação da sua candidatura, ainda que não cresça nas pesquisas?
Não tenho dúvidas de que a candidatura será homologada, porque o MDB precisa disso. Sem ela, o partido cairia no colo dessa polarização entre Lula e Bolsonaro. O MDB, se não tiver candidatura, racha. Claro que, no maior partido democrático do Brasil, não haverá unanimidade. Mas vamos respeitar as individualidades e alguns palanques regionais. É natural. O próprio MDB queria uma candidatura própria. Tanto que não me ofereci para ser candidata. Fui convencida a concorrer. Vim para um processo muito maior do que meus projetos pessoais: dar ao Brasil uma alternativa diante dos candidatos mais rejeitados. Nós temos 90% da Executiva hoje.

Michel Temer chegou a dizer que poderia assumir a cabeça de chapa da terceira via, caso houvesse um clamor de lideranças. Como a senhora avalia a postura do ex-presidente?
É uma forma gentil que ele tem de, quando as pessoas o abordam, não fechar as portas. Ele mesmo sabe que não é possível uma unidade em torno de um nome só. Temer, basicamente, tem dito: ‘Olha, nossa candidata é a Simone’. Inclusive, ele tem me acompanhado em eventos em São Paulo.

A terceira via passou por um momento conturbado, com a saída de Bivar e a desistência de João Doria. Esperava que fosse tão difícil construir a unidade?
Para mim, é o contrário. A desistência do Doria, por quem tenho respeito e carinho, tira o obstáculo para a união, porque nós tínhamos dois pré-candidatos e agora temos só um. Não vejo como algo ruim. Doria, inclusive, nesse processo de coalizão, pode ajudar fortemente no programa de governo, com a experiência de quem foi prefeito da maior cidade da América Latina e governador do maior estado do País.

Seu nome preferido para o posto de vice é, de fato, Tasso Jereissati?
Um passo de cada vez. Tenho particular apreço pelo Tasso. É um amigo pessoal, conselheiro. Mas é uma decisão do PSDB na qual não posso intervir ou opinar. Vejo, em Eduardo Leite, um grande ativo, um grande nome, um jovem que está se preparando e terá um futuro brilhante pela frente. Mas não sei se, hoje, ele está com o projeto voltado para o Rio Grande do Sul. Se for isso, temos de respeitar. Mas nem iniciamos essa conversa ainda. Por isso, não dá para cravar.

A senhora pretende conversar com quais partidos para ampliar o arco de alianças?
Pretendemos conversar com o PSD, o Podemos, o União Brasil, o Avante, o Novo… Me dou muito bem com o Felipe d’Avila. A civilidade e a urbanidade são constantes.

Mas Luciano Bivar se afastou justamente para se lançar como candidato do União Brasil à Presidência…
Vamos dar um tempo para ele caminhar um pouco e, lá na frente, conversamos. Alguém imaginava que Doria fosse desistir tão rapidamente?
Se mais partidos não se unirem, a senhora crê na possibilidade de vitória do Lula ainda no primeiro turno?
Em hipótese alguma haverá vitória no primeiro turno. Seja quem for — Lula ou Bolsonaro. Há muitas pessoas aguardando o desenrolar das coisas. Pessoas que dizem que até votam em fulano, mas que podem mudar de posicionamento com a terceira via no páreo. O que falta é só a gente amarrar os parceiros para nos apresentarmos como a opção de centro. Não tenho dúvida de duas coisas. Primeiro, que há um eleitorado significativo que não aguenta mais essa polarização ideológica que está levando o Brasil para o abismo. E, segundo, que, hoje, mulher vota em mulher. Quem vai decidir essa eleição é a mulher que não quer Lula ou Bolsonaro.

Temos 12 pré-candidatos ao Planalto. São apenas três mulheres. A senhora é a única delas a representar um grande partido. Por que ainda é tão difícil para a população feminina galgar espaços na política?
É um problema estrutural. As coisas estão mudando agora, mais rapidamente do que antes, porque nós tivemos que fazer alguns movimentos. O principal deles ocorreu quando buscamos a Justiça porque havia sido derrubado no Congresso os 30% de fundo partidário e eleitoral, além do tempo de rádio e televisão para mulheres.

A desigualdade ainda é grande?
A disparidade não é porque a mulher não se destaca ou não tem competência, mas, sim, porque à mulher nunca foi dado espaço igualitário. Em um primeiro momento, quando trabalhava nos bastidores da política e empacotava santinhos, via cheques polpudos para os candidatos homens, enquanto as mulheres recebiam R$ 1 mil ou R$ 2 mil para a campanha. Agora, as regras têm ficado mais claras e a Justiça tem sido parceira, cumprindo o que a Constituição diz: homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações.

Acredita que o vencedor, de fato, tomará posse? Bolsonaro tem escalado na retórica golpista.
Sim. As instituições são fortes. Bolsonaro pode tentar o que for. Estamos prontos. Somos uma muralha. Unidos, a imprensa, a política democrática e o Judiciário estão atentos a esses movimentos. Nesse aspecto, não há lados. Estamos unidos independentemente da cor partidária.

Qual será o principal desafio do próximo presidente da República?
Combater a inflação e erradicar a miséria. Você pode conviver com a pobreza, mas não com a miséria, que é quando a pessoa passa fome. O Brasil, que alimenta 800 milhões de pessoas no planeta, não consegue alimentar 5 milhões de crianças que dormem com fome todos os dias? É inimaginável, inadmissível. Você tem orçamento secreto, sobra dinheiro para algumas coisas, mas você não tem recurso para erradicar a fome entre 27 milhões de brasileiros? É um absurdo. A economia é o carro-chefe para resolver os problemas da vida das pessoas. O Brasil é tão rico que a gente consegue sair dessa crise em pouco tempo. Basta ter planejamento e usar o dinheiro de forma correta.

Em relação ao Orçamento Secreto, o Congresso ainda não deu total transparência aos dados. Se eleita, a senhora mudará o quadro?
Acabo com o orçamento secreto em uma canetada, exigindo, através de um ato normativo, que todos os ministérios abram as contas. O cidadão brasileiro tem de saber por todos os meios para onde está indo o dinheiro dele. Até mesmo os próprios parlamentares, quando virem que mais de 50% desse orçamento fica nas mãos de uma dúzia de congressistas, vão reclamar. Não sou contra emendas parlamentares. Elas levam um pouquinho de dinheiro para o posto de saúde das cidades menos populosas, por exemplo. Acho, inclusive, que as emendas são democráticas, desde que a distribuição ocorra de forma igualitária e com transparência.

A pré-campanha está marcada pelo vazio de propostas. A senhora já tem um programa de governo encaminhado?
Vamos soltar as propostas aos poucos. Já falei que o meu governo, se eleito for, terá paridade entre homens e mulheres no alto escalão, porque há mulheres competentes, dispostas a servir ao Brasil. Outro projeto que já anunciei é a criação do Ministério de Segurança. É zero de despesas, porque já temos a estrutura. O que importa é ter gente pensando e organizando, junto com as secretarias de Estado, um serviço de inteligência no País. A ideia é, ainda, dar maior preparo mental e intelectual aos policiais para que eles saibam abordar os cidadãos com menos violência e letalidade, mas também com maior estrutura de armas, equipamentos e viaturas.