24/06/2022 - 9:30

Sem resultados práticos decorrentes de sucessivas trocas no comando da Petrobras e no Ministério de Minas e Energia, a gestão Jair Bolsonaro, com a bênção do Centrão, prepara um arsenal para ampliar a ascendência sobre a estatal e, em articulações internas, conter a alta dos combustíveis até as eleições, em uma investida para reverter o desgaste do presidente junto à população. As estratégias discutidas vão da mudança na Lei das Estatais, com o intuito de entregar ao Planalto o controle direto sobre diretorias e conselhos da petrolífera, à criação de um novo rombo nas contas públicas para garantir subsídios aos caminhoneiros.
A infinidade de propostas colocadas à mesa demonstra que o governo está perdido na construção de saídas para a crise dos combustíveis, pretende apostar em novas cortinas de fumaça e não se preocupa com os efeitos das medidas na imagem da empresa e, consequentemente, em seu valor de mercado.
“O cobertor é curto. Tampa o peito; destampa o pé. O foco é evitar novos aumentos nos preços. Doa a quem doer”, comenta um aliado do Planalto, sob reserva.
Os textos dos projetos costurados devem ser finalizados até a próxima semana, segundo o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros. Pelo plano inicial, a Presidência deve publicar uma Medida Provisória com a modificação na legislação que estabelece regras para nomeações em cargos estratégicos em estatais — a legislação vigente foi sancionada em junho de 2016 pelo então presidente Michel Temer, após o auge da Lava Jato, para afastar o clientelismo na Petrobras e garantir que as decisões ficassem nas mãos de nomes técnicos. Com a mudança nos critérios, o Planalto pretende, de forma imediata, abrir espaço para a mudança na política de paridade internacional de preços e, a longo prazo, manter a estatal sob suas rédeas.
Em paralelo, Bolsonaro externou que cobrará de Caio Paes de Andrade, indicado para a presidência da Petrobras, a troca de toda a diretoria. Nos bastidores, fala-se na implementação de um intervalo, pelo menos até o primeiro turno das eleições, para o anúncio de novos reajustes. “Obviamente, ele vai trocar seus diretores. Eu não posso ser eleito presidente, tomar posse e não trocar os ministros. Assim é em qualquer lugar. E esses novos vão dar uma nova dinâmica”, disse o presidente, em entrevista à rádio Itatiaia, de Minas Gerais.

Troca de comando
O Comitê de Elegibilidade planejava se reunir nesta sexta-feira, 24, para analisar a designação de Caio. O nome dele deve seguir para o Conselho de Administração. A deliberação ocorre quatro dias após José Mauro Ferreira Coelho ter renunciado ao comando da empresa sob intensas pressões de Bolsonaro e Arthur Lira. Os dois ficaram enfurecidos na semana passada, quando a estatal anunciou reajustes nos preços do diesel e da gasolina cerca de 48 horas após o Congresso concluir a votação de um projeto que estabelece um teto ao ICMS incidente sobre combustíveis. O motivo é simples: a alta de R$ 0,70 no preço do diesel consome o impacto da redução de preços estimada com a desoneração, de R$ 0,76.
Enquanto Caio ascende ao comando da estatal, o governo trabalha em outra ponta para tentar mostrar serviço. Um dos planos é estabelecer um auxílio mensal aos caminhoneiros — o impacto global da medida seria de R$ 4 bilhões neste ano. A ideia foi mal recebida na categoria, a qual aponta que o benefício se esgotaria rapidamente. “Caminhoneiro não precisa de esmola, mas de dignidade”, disse o presidente da Associação Brasileira de Condutores de Veículos Automotores, Wallace Landim, conhecido como Chorão. Ao custo de R$ 1 bilhão, o governo quer ainda ampliar o Auxílio Gás, que, hoje, atende cerca de 5,5 milhões de famílias com R$ 53. Para cobrir as despesas, será necessário mais um drible ao teto de gastos, em uma nova sinalização ruim ao mercado. Os números foram divulgados por Ricardo Barros.
Não é só. Na tentativa de se eximir da responsabilidade pela alta dos combustíveis, Bolsonaro propôs uma CPI para investigar a petrolífera, ainda que o Conselho de Administração conte com seis membros indicados por ele próprio entre os 11 titulares, numa investida que tem tudo para ser um tiro no pé. Além disso, prometeu publicar um decreto para obrigar os postos a divulgar o custo da gasolina, do etanol e do diesel nas refinarias. “Se está R$ 4 na refinaria, por que está R$ 8 no posto? Quem está cobrando muito? É o governador? É o presidente? São tanqueiros? Donos do posto?”, disparou. Pela reeleição, o presidente partiu para o vale-tudo. Com novos bodes expiatórios, quer mascarar a própria incompetência.