Em 5 de setembro, o Reino Unido poderá ter sua versão 2022 de Margareth Thatcher, a primeira-ministra que comandou os ingleses por 11 anos. A candidata ao posto é Mary Elizabeth Truss.

Ela nega, mas copia cabelo, roupas, poses e discursos daquela que deixou sua marca como Dama de Ferro entre 1979 e 1990. Mesmo sem enganar seus críticos – para quem Liz Truss não chega nem perto daquela que foi uma das lideranças mais poderosas do mundo –, está bem à frente da corrida por votos dos membros do Partido Conservador.

Hoje, a ministra do Exterior tem a preferência disparada dos cerca de 180 mil eleitores filiados, para se tornar primeira-ministra.

De acordo com a média de pesquisas mais recentes de sites especializados, a “Thatcherita” repaginada – que completa 47 anos nesta sexta-feira 26 –, tem 57% sobre 31% de seu adversário, o bilionário Rishi Sunak, de 42 anos, que foi um ministro da Economia com trabalho reconhecido pela eficiência diante da pandemia.

Liz Truss defende com “unhas e dentes” o Reino Unido, que para ela precisa retomar sua posição de país mais influente no mundo. Também é veemente ao cobrar firmeza do “Ocidente” (leia-se Estados Unidos), sobretudo contra o avanço econômico da China e o destaque geopolítico da Rússia, a quem considera inimiga histórica. Condena as Nações Unidas e a Organização Mundial do Comércio por uma suposta inoperância. Abraçou o desligamento britânico da União Europeia – que deixou o Reino Unido muito mais dependente do G7 e da OTAN (ela quer que a aliança militar se torne uma “OTAN econômica”).

57%
Liz Truss

31%
Rishi Sunak

De ativista liberal quando estudante – e contra o Brexit –, deu uma guinada de 180 graus para se tornar membro do Partido Conservador e iniciar carreira como deputada. Suas idas e vindas na política escancaram brechas para adversários criticarem sua candidatura a primeira-ministra. É vista como “plantada nos anos 1980”, com postura de missionária e falsidade em suas referências à “Senhora Thatcher”.

Frases como “Nunca podemos baixar a guarda” e “O preço da liberdade é a vigilância eterna”, dizem, remontam à Guerra Fria.

Mas, além de não citar Brexit, Covid e guerra na Ucrânia em suas pregações – motivo de raiva dos britânicos em geral –, se mostra “desconectada da realidade”, nas palavras de Michael Grove, seu correligionário e figura de destaque no Partido Conservador depois de passar por três ministérios. Ele diz que Liz Truss fala em cortar impostos, o que favoreceria ricos e grandes empresas, em vez de enxergar a urgência de uma ajuda financeira direta a pequenos empresários e população mais vulnerável, que sofre para conseguir comer depois do aumento de 75% na conta de luz (com outro reajuste já aprovado para janeiro).

A “Senhora Thatcher” não aplaudiria isso, comentam membros do próprio partido. Ao contrário, ficaria horrorizada.

Como política, Liz Truss foi “descoberta” pela mídia britânica por conta do caso que teve, entre 2004 e 2005, com Mark Field, também do Partido Conservador (ela é casada desde 2000 com Hugh O´Leary, com quem tem as filhas pré-adolescentes Frances e Liberty). Mas as críticas se estendem à sua necessidade de autopromoção pelo Instagram, porque “não é boa em nada que faz”, dizem. “Parece um robô em curto-circuito” ou “é uma granada sem pino”. Causam horror a hiperagressividade contra a Irlanda do Norte e as fanfarronices pretensamente engraçadas, copiadas de seu verdadeiro mentor, Boris Johnson. Há mesmo vídeos virais, mostrando menções alucinadas da candidata, como a surpresa com “a dependência britânica da importação de queijo”, que destacou como “desgraça”.

‘Cosplay’ de um ícone

Nesta reta final da eleição, Liz Truss ainda teve de explicar um tropeço bem pior. Em 2019, em áudio vazado, despreza trabalhadores britânicos dizendo que não são tão preparados como seus similares estrangeiros e ainda que são preguiçosos. Foi além, enaltecendo londrinos sobre cidadãos de outras partes do país. Na sequência, se viu diante da denúncia que, à frente das relações exteriores, atrasou a entrega de um relatório sobre direitos humanos em que criticava Ruanda e validava repatriar, com passagem só de ida, aqueles que pediam asilo político no Reino Unido depois de atravessar o Canal da Mancha em barcos precários.

Seu adversário Rishi Sunak também teve de justificar por que sua mulher, Akshata Murthy, não declarava imposto no Reino Unido (acabou pagando mais de R$ 70 milhões referentes a investimentos, em 2021). Os britânicos se perguntam se haverá como remendar o Partido Conservador, de tão rachado. Ou mesmo se sua sobrevivência será possível.


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