11/11/2022 - 9:30
Motores da expansão do comércio nas últimas décadas, os shopping centers mudaram. A cara repaginada desses empreendimentos vai da mudança do mix de lojas, incluindo mais prestação de serviços, como restaurantes, escolas e clínicas médicas, a espaços de lazer para crianças e animais de estimação. Uma nova onda também ganhou força, a de grandes eventos e exposições, como o SP Market, por exemplo, na capital paulista, que tem como seu foco principal o entretenimento para famílias. Segundo Luis Garcia, superintendente do empreendimento, a proposta de centro de compras está sendo substituída. “O que observamos é que cada vez mais o shopping se torna um centro de convivência e troca de experiências”, afirma.
Recente estudo feito pela Multiplan mostra o rearranjo nos últimos 10 anos na área ocupada dentro dos shoppings da companhia, entre diferentes segmentos. As lojas de artigos de vestuário ainda representam a maior fatia, com 32,7% do total no segundo trimestre deste ano, mas essa porcentagem representa um recuo de 3,5 pontos percentuais em relação ao mesmo período de 2012. Outro segmento que encolheu foi o de artigos para o lar, com queda de 2,5 pontos percentuais. Já as operações ligadas à alimentação avançaram 3,6 pontos.
Para os lojistas, a introdução de novos segmentos de negócios é produtiva. “O fluxo de pessoas cresce e, com isso, as vendas melhoram”, afirma o diretor da Associação de Lojistas de Shopping (Alshop), Luis Augusto Ildefonso, explicando que seus associados estão se beneficiando desse novo consumidor que vai à procura de serviços. A transformação dos pontos comerciais ocorreu para ocupar os espaços que ficaram vagos na pandemia, mas também reflete uma mudança nos hábitos de consumo. Ricardo Portela, gerente de marketing do Shopping Ibirapuera, acha que o mix de lojas é fator determinante na atração de público. “As lojas de serviços, sem dúvida, impulsionaram este movimento”, diz, destacando que devido a essa busca o Ibirapuera inaugurou nos dois últimos anos 12 lojas de serviços. “A partir dessa nova demanda criamos um lounge dedicado à leitura e ainda o Ibira Hub Coworking.”

No entanto, mesmo com essa virada de chave, os corredores ainda estão mais vazios do que antes da pandemia. De acordo com a Associação Brasileira dos Shoppings Centers (Abrasce), ainda que o volume total de vendas de 2022 esteja prevista em R$ 202 bilhões, o que ultrapassaria a marca de 2019 (R$ 193 bilhões), uma a cada cinco pessoas ainda não retornou, ou seja, são 105 milhões de consumidores a menos, segundo dados do Censo Abrasce 2021. Os dados mensais de fluxo de 2022 mostram uma recuperação contínua no número de frequentadores sobre os respectivos meses do ano passado. Embora os shoppings estejam se recuperando, os cinemas ainda não conseguiram acompanhar o mesmo ritmo. Pesquisa feita pelo Datafolha, a pedido do Itaú Cultural, mostra que 90% dos entrevistados reduziram a ida ao cinema.
Para Caio Silva, diretor executivo da Abraplex, uma das explicações para esse cenário é a baixa oferta de filmes. “Enquanto em 2019 foram lançados 486 filmes, a previsão até o momento é que ocorram apenas 216 em 2022, como sinaliza o mercado”, afirma. O presidente da Abrasce, Glauco Humai, diz que para retomar a audiência estão sendo feitas promoções casadas e campanhas. “Já fizemos campanha conjunta com a Abraplex de ingressos a R$ 10, que foi muito bem recebida.” A ideia da associação é converter os visitantes dos 620 shoppings do País em público para as salas de cinemas presentes.
Com a mudança de perfil ampliou-se o leque de serviços, e foi por conta dessa mudança que o Continental Shopping, que fica em São Paulo na divisa com Osasco, abriu espaço para a instalação de uma escola. Em uma área de 1,5 mil m2, distribuída em dois andares, a escola de ensino fundamental Sunrise School começou a funcionar em janeiro, recebendo diariamente 120 alunos, com idades entre 5 e 12 anos. “É 30% mais caro estar no shopping, mas compensa pela comodidade, segurança e parcerias”, explica a diretora Melissa Fukuda.
Fonte: Abrasce
Se cada responsável entrar no shopping, serão ao final do mês 2,4 mil pessoas a mais circulando em função do colégio. “Acreditamos que a escola foi uma maneira de atrair um público novo, além de revolucionar a ideia de serviços nesse tipo de espaço”, afirma Agnério Carvalho, superintendente do Continental Shopping. Ele diz que pais e responsáveis acabam usufruindo das lojas devido à facilidade. Esse é o caso da publicitária Fabiana Scatolini, que aproveita a facilidade da escola no shopping para fazer suas atividades cotidianas, como ir à academia. “Escolhi a escola pela sua proposta, mas o fato de ela estar no shopping deixou tudo perfeito. Consigo resolver muitas coisas do dia a dia em um só lugar.”