19/03/2021 - 9:30
O presidente Bolsonaro mudou.
Mudou na semana passada.
É um novo homem, soube de fonte segura.
Dizem, à boca pequena, que a mudança se deu em função da decisão do ministro Fachin de anular o julgamento do ex-presidente Lula.
Não é verdade.
Minha fonte informa que já há alguns meses o presidente Bolsonaro estava insatisfeito com as decisões de seu governo.
Dizia aqui e ali que seus assessores eram muito radicais.
Que não era assim que ele queria entrar para a História.
Então o presidente estava procurando o melhor caminho para mudar tudo.
Semana passada, ao que tudo indica, decidiu que a mudança não poderia mais esperar. Nada a ver com a decisão de Fachin.
– Foi coisa do presidente e sua consciência. Assegurou minha fonte.
O primeiro a identificar a mudança foi o primeiro-garçom, no café da manhã.
Como fazia todos os dias desde a posse, entrou com a bandeja de café da manhã, com uma média no copo americano, pão e leite condensado.
Bolsonaro olhou para o sujeito e disparou:
– Cadê a máscara? Você não leu as recomendações da OMS, criatura?
O garçom tinha lido, mas nunca usou máscara no trabalho, por ordem do próprio Bolsonaro.
Antes que pudesse responder, o presidente continuou:
– Leva embora esse negócio. Agora, de café da manhã, quero chá com torradas.
Saindo da sala, o garçom ainda pode ouvir o presidente gritando:
– E avisa na cozinha que virei vegano!
O garçom olhou para a secretária, ambos incrédulos.
Muita gente que assistiu à entrevista coletiva da equipe de governo depois do discurso de Lula, com toda a equipe de máscara, achou que o presidente tinha sido intimidado pelo petista.
Errado.
O presidente não é homem de ter medo de comunista, disse um dos ministros que pediu para não ser identificado.
O fato é que desde a semana passada, Bolsonaro tinha mudado da cerveja para água.
A decisão de Fachin foi apenas uma coincidência.
Numa noite, chamou os filhos para jantar e deu a notícia.
– Chamei vocês para informar que as coisas vão mudar por aqui. Agora a gente vai fazer tudo direitinho, como manda o figurino, pelo bem do país.
O filho Flávio não conseguiu conter uma gargalhada, achando que aquilo era mais uma piada do pai.
– Tá rindo de que, seu…seu… zero a esquerda!?
O sorriso do filho desapareceu instantaneamente e deu lugar a uma expressão que era um misto de medo e incredulidade.
– E faz favor de vender aquela porcaria de mansão que você comprou. Prefiro um filho gay a um filho sob suspeita!
Durante essas duas semanas o presidente demonstrou sua intenção de virar o Planalto de pernas para o ar, pelo bem do Brasil. Chamou o Paulo Guedes.
– Queridão, você já tentou viver com R$300 por mês?
O ministro não entendeu a pergunta.
No fundo achou que o presidente se referia a 300 mil reais. Mas segundos depois entendeu que se tratava do auxílio emergencial.
A respeito do retorno de Lula ao jogo eleitoral: “Bolsonaro não é homem de ter medo de comunista!”, garante um de seus ministros que pediu para não ser identificado
– Então, Guedes, volta lá para a sua sala e só me aparece de novo quando arranjar um lugar para tirar uns mil reais por mês para o meu povo carente.
Ainda nesse mesmo dia, o presidente se reuniu com o pessoal do IBAMA e colocou o exército à disposição para acabar com os incêndios nas florestas.
Liberou verbas para a Cultura, o que surpreendeu até a Regina Duarte.
No dia seguinte, ligou pessoalmente para o CEO da Pfizer e fechou a compra de 200 milhões de doses de vacina.
– O senhor me desculpe à demora, viu? É que o pessoal aqui é muito complicado.
A mudança do presidente, ao que tudo indica veio para ficar.
Prova disso é que quando o ministro Pazuello veio pedir para se afastar, porque estava com problemas de saúde o presidente não titubeou:
– É Covid? Hein? Hein? Se for, não me vai tomar cloroquina que isso não serve para nada.