Quando a grife italiana Dolce & Gabbana desfilou no primeiro Metaverse Fashion Week, organizado pela Decentraland, foi o próprio Stefano Gabbana, um dos estilistas da marca, quem desenhou a coleção digital. O mesmo acontece com Alessandro Michele, diretor criativo da Gucci, a marca com maior presença nos jogos de videogame da atualidade, com direito a uma cidade própria dentro do Roblox. A francesa Louis Vuitton, uma das primeiras a entrar em League of Legends, em 2020, também teve suas criações assinadas por Nicolas Ghesquière, o estilista responsável pelas roupas reais que vestem as mulheres mais famosas do mundo.

ESTILO Alessandro Michele, da Gucci, confecciona peças digitais: marca possui cidade no Roblox (Crédito:PRESLEY ANN)
Porém, em plataformas virtuais colaborativas, como a própria Decentraland, é possível que pessoas comuns façam as roupas de seus avatares para diferentes jogos e espaços do metaverso. Estúdios de criação, que trabalham com vídeos ou realidade aumentada, também têm papel fundamental nessa jogada e diversos nomes começam a ganhar destaque, como os estilistas americanos Samuel Jordan, de 22 anos, e Mishi McDuff, responsável pela grife virtual Blueberry, ou ainda o estúdio brasileiro Gira Studio, único desenvolvedor do País a participar da semana da moda do Metaverso. Mas afinal, o que faz um estilista digital?
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A base da profissão não muda: é a criação de uma peça baseada no desenho. A diferença das roupas criadas para os games — onde elas têm grande procura e podem ser vendidas por milhares de dólares — é que muitas vezes elas não são desenhadas para um corpo humano. Já o caimento, a textura e as cores, em um universo 3D cada vez mais próximo do real, são quase os mesmos. “Quando eu era criança queria seguir os passos da minha madrinha e me tornar estilista”, diz Sayuri Takamura, artista 3D, responsável pela criação dos personagens da VR Monkeys, empresa de realidade aumentada que produz diversos jogos de videogame para o mercado nacional.

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“Quando eu era criança queria seguir os passos da minha madrinha e me tornar estilista” Sayuri Takamura, artista 3D

Para ela, que desenha seus croquis em uma prancha digitalizadora, uma das grandes vantagens de criar conteúdo para os games é a possibilidade de realizar um desenho de infinitas maneiras, testando toda a sorte de funcionalidades. “Além de trabalhar com isso, também sou uma jogadora e posso dizer que já gastei muito dinheiro com roupas em League of Legends. No jogo, todo mundo se preocupa com isso”, conta. Para ajudar a compor o conceito do seu trabalho, há muita pesquisa envolvida. É aí que entra o trabalho de Eduardo Cucick, designer de games, responsável pela narrativa que envolverá um personagem em todos os seus elementos, como idade, sexo, personalidade, acessórios e roupas, claro. “Não somos artistas, mas também não somos programadores.

Gosto de pensar que somos uma espécie de arquitetos de emoções”, diz. Ele, que já trabalhou como diretor de teatro e de musicais, diz que é preciso muito repertório para entender como transferir certas sensações para as telas. “Não é só um desenho. Para compor um samurai, por exemplo, se estuda detalhes da história japonesa”, explica. Quem produz os personagem mais fidedignos dentro de um jogo e quem cria as roupas que melhor contam essa jornada têm ganhado muito dinheiro com esse ramo da indústria. A marca Blueberry faz apenas roupas digitais e surgiu no universo dos games há oito anos. Sua criadora, Mishi McDuff, credita o sucesso da marca à rapidez que responde aos feedbacks dos clientes, que dizem o que está bom e o que precisa melhorar, através de fóruns ou de redes sociais como o TikTok e o Twitter. O faturamento anual da empresa é de US$ 1 milhão, segundo Mishi.

EXCLUSIVIDADE As roupas criadas pelo estilista Nicolas Ghesquière, da Louis Vuitton, são objetos de desejo em League of Legends (Crédito:Divulgação)
Para Giovanna Casimiro, que comandou a realização do Metaverse Fashion Week, o sucesso dessa área é tão grande que o evento será anual e só tende a crescer. “Mais de 70 marcas desfilaram nesse ano, a Decentraland tem meio milhão de usuários diários. Só entre criadores do evento, estúdios ou freelancers, foram 50 nomes. É uma transformação política do segmento”, explica. Ela, que estudou estamparia de moda, afirma que ter alguma formação na área é um diferencial para quem quer seguir na carreira, mas não é obrigatório. “A qualidade dos vestíveis fica clara quando vemos que foram feitos por quem entende mais do assunto, mas esse é um campo aberto a todos”, diz.