20/08/2021 - 9:30
Nos próximos dias, a terceira dose da vacina da AstraZeneca contra a Covid-19 começa a ser aplicada em idosos na bucólica Ilha de Paquetá, na Baía da Guanabara, que conta com cerca de 4,5 mil moradores fixos e tem servido de laboratório para os estudos de eficácia dos imunizantes no Rio de Janeiro. Em São Paulo, o Ministério da Saúde e a Unifesp iniciaram, terça-feira, um estudo para a avaliação da eficácia do reforço da Coronavac. No Chile, a dose extra da mesma Coronavac começará a ser aplicada nas pessoas que tomaram a segunda antes do dia 31 de março. Nessa altura, já dá para saber que o reforço na vacinação se tornou inevitável para aumentar a resistência imunológica da população vacinada, que tende a decrescer ao longo do tempo, e fazer frente às novas variantes do coronavírus, em especial a delta. Enquanto os estudos clínicos avançam para confirmar a necessidade de uma terceira dose, os cientistas tentam entender o ciclo da imunização e descobrir até quando resiste a proteção vacinal, principalmente nas pessoas mais vulneráveis. Tudo indica que essa proteção se esgota e que precisará ser renovada todo ano ou de seis em seis meses.
No Brasil, apesar do anúncio oficial, o início da 3ª dose será mais lento porque a vacinação está atrasada

Para o infectologista Munir Ayub, professor da Faculdade de Medicina do ABC e membro da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), a terceira dose tende a se comprovar necessária para fazer frente ao eventual recrudescimento da doença. “Ainda não temos dados totalmente conclusivos”, diz. “Mas as informações preliminares dão conta da necessidade da terceira dose depois de um intervalo de seis meses a um ano da segunda.” Entre as vacinas em que já se indica uma dose adicional estão a Coronavac, a da Pfizer e a da AstraZeneca, que receberam nesta semana autorização da Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa) para o estudo do reforço ainda neste ano. Em várias partes do mundo, a terceira aplicação começou para indivíduos com comorbidades. “Já se sabe que os anticorpos vão caindo com o passar do tempo e, no caso dos idosos, isso é mais acentuado”, afirma. “Nós próximos meses teremos estudos mais definitivos.” Ayub acredita as vacinas anti-Covid entrarão na rotina dos postos de saúde nos próximos anos.
Preferência para idosos
O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, antecipou na quarta-feira, 18, que a dose adicional vai ser aplicada primeiro em idosos e profissionais de saúde, mas pode ser expandida para outros grupos. “Estamos planejando para que, no momento que tivermos todos os dados científicos e um número de doses suficiente disponível, já orientar um reforço da vacina. Isso vale para todos os imunizantes. Para tanto, nós precisamos de dados científicos, não vamos fazer isso baseados em opinião de especialista”, disse Queiroga. O governador de São Paulo, João Doria, também anunciou que estuda a aplicação da dose extra na população. “Se necessário for, o governo de São Paulo vai providenciar mais vacinas da Coronavac”, afirmou. O foco de atenção do Comitê Científico do estado neste momento é a variante delta, que se propaga velozmente e voltou a encher as UTIs dos hospitais de várias grandes cidades.

Mundialmente, a terceira dose avança em ritmo acelerado. Em Israel, por exemplo, onde a totalidade da população já está imunizada, os maiores de 60 anos começaram, desde julho, a receber a terceira da Pfizer. “Começamos a campanha de reforço para que a vida possa voltar ao normal o mais rápido possível”, disse o presidente israelense Isaac Herzog. No Chile, na próxima semana, começam a ser vacinados os cidadãos com mais de 60 anos que receberam as duas primeiras doses da Coronavac. O imunizante chinês foi aplicado em 90% dos vacinados no país.
Nos Estados Unidos, o governo também planeja recomendar a terceira dose para pacientes que foram imunizados com a Pfizer e a Moderna entre seis e oito meses depois da segunda aplicação. Foi verificado em testes que ela garante um aumento importante na proteção. No último dia 12, a FDA publicou uma recomendação de terceira dose ns Estados Unidos para os imunossuprimidos, como os doentes de HIV ou indivíduos que receberam recentemente transplante de órgãos. De um modo geral, a decisão de aplicar o reforço ainda está baseada na opinião de especialistas e não em evidências científicas sólidas.
No Brasil, porém, apesar dos anúncios oficiais, o início da terceira dose será mais lento porque a vacinação está atrasada e só 25% da população está totalmente imunizada. Ainda é necessário concluir a primeira e a segunda doses antes de se pensar em aplicar um reforço generalizado. Segundo os últimos dados oficiais, por aqui, até agora, cerca de 115 milhões de pessoas já tomaram a primeira e 51,2 milhões também a segunda. A previsão é que até o final de outubro a primeira etapa da vacinação esteja concluída e aí se possa planejar de fato a aplicação de reforço. Seja como for, a terceira dose já é um fato.