07/10/2022 - 9:30
O PSDB está em crise. Pouco resta do partido fundado em 1988 pela social democracia de Fernando Henrique Cardoso, Mário Covas e Franco Montoro, entre outros, logo após o fim da ditadura e que, desde então, se mantinha no centro do debate político do País exatamente por ter dirigentes preparados para contribuir com mudanças do cenário de subdesenvolvimento.
Isso aconteceu, por exemplo, em 1994, quando os tucanos criaram o Plano Real e estabilizaram a economia. Com cada vez menos capacidade de dialogar com a sociedade, o partido é hoje uma babel onde quase ninguém se entende. O resultado dessa confusão, que começou a se manifestar a partir da campanha presidencial derrotada em 2014 com Aécio Neves à frente, veio à tona com mais nitidez no domingo, 2.
O partido, que nos tempos áureos chegou a eleger oito governadores de uma vez só, como ocorreu em 2010, desta vez não elegeu nenhum, embora tenha emplacado tucanos no segundo turno em quatro estados (RS, MS, PB e PE), mesmo que todos tenham ficado na segunda colocação e com poucas chances de se eleger. A derrota mais relevante aconteceu para o governo de São Paulo, estado de nascimento da legenda e onde foi a força política dominante por quase três décadas. O maior erro aqui foi dos publicitários, que não souberam “vender” aos eleitores as importantes realizações da gestão de João Doria e Rodrigo Garcia.


Em consequência dos equívocos da direção nacional da agremiação, sobretudo do presidente Bruno Araújo, que fez de tudo para não lançar candidato próprio a presidente, alijando Doria da disputa, a bancada tucana eleita para a próxima legislatura na Câmara é a menor de todos os tempos, com apenas 13 deputados federais – em 2018 foram eleitos 35 – e o partido não elegeu nenhum novo senador, além dos seis que já tinha. “O partido está virando nanico”, reconhece importante fonte do PSDB. Tradicionalmente, o partido contava com um mínimo de 50 deputados federais e rivalizava, em tamanho, com os então gigantes MDB e o PT. Na eleição de 2018, com a fragilizada campanha presidencial de Geraldo Alckmin, o número de parlamentares na Câmara caiu para 28. O fracasso nas urnas em nada lembra o partido que antagonizou com o PT todas as eleições presidenciais de 1994 a 2014. Desta vez, se limitou a emplacar a senadora Mara Gabrilli (PSDB-SP) como vice de Simone Tebet (MDB-MS), que ficou em terceiro na disputa, com pouco mais de 4% dos votos.
Divergências
Para Doria, o mau desempenho do PSDB nas eleições deste ano pode levar o partido ao desaparecimento – o que, segundo ele, “seria uma pena”. “É um partido perdedor neste momento”, avalia. Não é possível prever um desfecho para a crise no ninho tucano, mas o ocaso do partido efetivamente começou em novembro de 2021, depois que o grupo do deputado Aécio Neves (PSDB-MG) intensificou o processo para minar a pré-candidatura do ex-governador paulista ao Palácio do Planalto, democraticamente definida nas prévias do partido.
A insistência de uma ala do tucanato com a candidatura do então governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, acabou inviabilizando o nome de Doria – quadro do partido que se mostrava eleitoralmente mais viável até pelo importante trabalho realizado por seu governo durante a pandemia. “Venci as prévias e não levei porque a Executiva nacional ponderou que comigo não haveria nem manutenção e nem aumento da bancada federal do Congresso”, lembrou Doria, reforçando as críticas ao presidente nacional, Bruno Araújo. “Fui praticamente forçado a deixar a disputa e, ao final, o PSDB elegeu bem menos deputados, com uma redução de 41%”, destacou à ISTOÉ.
Com o fracasso nas urnas no dia 2, a divisão interna se aprofundou. Na terça-feira, 4, a Executiva Nacional decidiu, em Brasília, liberar seus filiados a apoiar quem melhor desejassem para o segundo turno presidencial. Cinco ex-presidentes da legenda resolveram apoiar Lula, mas o governador Rodrigo Garcia declarou apoio “incondicional e pessoal” a Jair Bolsonaro e Tarcísio de Freitas, o candidato do presidente a governador de São Paulo, que, agora, enfrenta o petista Fernando Haddad na disputa do segundo turno. Doria manifestou que votará nulo. Na sequência, vários líderes tucanos da velha guarda anunciaram voto em Lula, como foi o caso de Fernando Henrique. “Neste segundo turno voto por uma historia de luta pela democracia e inclusão social. Voto em Luiz Inácio Lula da Silva”, disse o ex-presidente. O projeto agora é a reconstrução do ninho tucano.