Na tv –  Isabel Teixeira 

Isabel é atriz formada pela Escola de Arte Dramática na Universidade de São Paulo. A artista hoje conhecida nacionalmente tem imponente trajetória no teatro. Foi integrante-fundadora da Companhia Livre de Teatro, por exemplo. Trabalhou em espetáculos de Regina Braga e Zélia Duncan. Detém renomados prêmios, como Shell de Melhor Atriz em 2009, por Rainha[(s)] — Duas Atrizes em Busca de Um Coração. Filha do músico Renato Teixeira e da atriz Alexandra Corrêa, Isabel cresceu nas coxias. “O teatro acontecia dentro da minha casa”, relembra. Aos 19, desejou o mesmo caminho e assustou a própria mãe, batalhadora na área. “Quando falei que faria a EAD, ela teve um ataque. Falou: ‘Pô, você não viu como foi difícil?’”, recorda. “Mas quando escolhi como profissão, não tinha nenhuma ilusão”. Com Teixeira cultivou a paixão pela música. “Meu pai e o violão são uma coisa só. Eu sei afinar um de ouvido”, conta. “Em casa, a música não é ofício, mas está presente. Toco violão, flauta e piano. Faz parte da minha vida”. Uma existência calcada na arte e cultura de nascença.

Exibido 32 anos depois da versão original, o remake de Pantanal, da Globo, despontou na audiência em 2022. O clássico de Benedito Ruy Barbosa para a Rede Manchete ganhou versão repaginada nas mãos de Bruno Luperi. Quando uma novela vai parar no mercado popular, entende-se que virou febre, e nunca se vestiu tanta estampa de onça como nesse ano. Em tempos de redes sociais, se alguém viralizou foi Isabel Teixeira, com sua interpretação de Maria Bruaca. A história da mulher que sofre nas mãos do marido opressor e, aos poucos, se liberta dos abusos, foi debatida com veemência na internet. Aos 49 anos, a atriz já consagrada no teatro foi ovacionada pela construção da esposa de Tenório (Murilo Benício). O olhar triste e a fala temerosa de quem normalizou a violência doméstica fez o telespectador aplaudi-la por meses. A expertise dos palcos falou mais alto. Não bastasse o drama, Bruaca também teve humor —entre atores há o conceito de que é mais difícil fazer rir do que chorar. E Isabel fez isso com maestria. Hipnotizou em uma torcida em busca da felicidade e liberdade feminina, incluindo a sexual. Isabel, que tem no currículo prêmios que vão do Shell ao APCA, enfim, foi apresentada à massa. E de forma avassaladora: virou fenômeno. “A televisão tem um alcance maior”, analisa, em entrevista à ISTOÉ. A artista atribui os aplausos como resultado do que chama de “consciência do processo” do ofício. E resume a eficiência em cena como trabalho: “Eu sou uma trabalhadora antes de qualquer coisa. E adoro disciplina”.

Diretora, dramaturga e pesquisadora, ela, acredite, se considera iniciante na TV. Apaixonada por corrida, compara os dias intensos no Projac, estúdios da Globo no Rio de Janeiro, com uma maratona. “Novela é uma prova de 42 quilômetros”, exemplifica. Antes de Pantanal, ela fez participações na série Desalma e no folhetim Amor de Mãe. Mas essa foi a primeira vez que cumpriu uma “maratona” do começo ao fim. E, após longa estrada de palcos, ela se deparou com o estrelato. O triunfo em grande escala pode ludibriar alguns, não Isabel. “A frase ‘eu quero ser atriz para ser famosa’ é uma coisa que não consigo entender. Ser famoso é o quê?”, questiona. “Eu sempre tive sucesso. Ter êxito é ter um dia belo e útil. Acordar e fazer o que ama do começo ao fim do dia. Isso é sucesso. Esse retorno da Maria Bruaca é consequência, não é o foco”.

“O coração que fiz para a Maria Bruaca colou no meu. É imaterial o que fica dela em mim.
Me comovo com o que me foi dado de presente: uma personagem linda”

Assim, ela carregou com louvor a bandeira levantada por sua dona de casa em Pantanal. Nas ruas, ouviu relatos emocionantes de homens e mulheres. “Você ainda vai encontrar um casamento que tem uma Bruaca e um Tenório”, lamenta. Por isso, ela se sente feliz de ser parte integrante da geração que contesta a violência. “Cultura transforma”, observa. No caso, desperta. Afinal, por causa dela, falou-se também em etarismo. “Isso mexeu com as mulheres. Escutei muito: ‘Você fez eu ficar mais bonita’”, narra. Os prós foram muitos. Em anos de carreira, Isabel tem o hábito de colecionar objetos de suas personagens, uma roupa ou um adereço de cena para a posteridade. Da Bruaca, não levou nada. “O coração que fiz para ela colou no meu. É imaterial o que fica dela em mim. Fico comovida com o que me foi dado de presente”, agradece.

Com o término de Pantanal, a intérprete voltou para a rotina assim como costumava ser antes da aclamação nacional. Em São Paulo, retomou sua editora artesanal, Cadernos Fora do Esquadro – com sede em seu apartamento, no bairro de Santa Cecília. “Não quero entrar no mercado editorial. Ainda bem que não é o que escolho para ganhar a vida, porque não ia dar”, comenta, com sinceridade. O ofício a satisfaz. “Tenho necessidade de escrever”, justifica. Entre as publicações, ela planeja o futuro. Hoje seu nome é categoria nível A na Globo, e corre à boca pequena que é disputada por autores da emissora. “Não rolou nenhum convite oficial”, afirma. Ao mesmo tempo, analisa outras questões. “Nunca fiz cinema e tenho vontade de fazer. Aliás, tenho muitas vontades”, finaliza.