Após passar séculos conhecido como o pintor de Mona Lisa, um dos quadros mais famosos da história, Leonardo Da Vinci volta a ser notícia graças a outra mulher: sua mãe. Documentos oriundos dos arquivos de Florença, datados de cinco séculos atrás e divulgados agora pelo historiador Carlos Vecce, trazem a público uma revelação surpreendente. A mãe de Da Vinci, Caterina di Meo Lippi, era uma princesa da Circássia, na região do Cáucaso, hoje território russo, até ser raptada e enviada à Itália para ser negociada como escrava. Filha do príncipe Yakob, ela teria passado por diversos mercados até chegar ao de Florença, onde conheceu o jovem tabelião Piero Da Vinci, pai do gênio renascentista. A revelação está no livro O Sorriso de Caterina, a Mãe de Leonardo, ainda sem tradução no Brasil.

“Caterina foi levada de sua casa, nas montanhas do Cáucaso, e vendida nos mercados de Constantinopla (hoje Istambul, na Turquia) e Veneza, antes de chegar a Florença”, afirmou Vecce em uma conferência, no início de março. Segundo o professor da Universidade de Nápoles, a origem de Da Vinci permanecia em parte misteriosa porque apenas a árvore genealógica de seu pai podia ser oficialmente confirmada. Até agora, apenas o documento do casamento de Piero e Caterina registrado na cidade de Anchiano, na região da Toscana, era conhecido. Em sua pesquisa, Vecce localizou outra certidão em latim assinada por Piero e datada de 2 de novembro de 1452. O manuscrito proclama a liberdade de Caterina da situação de escravidão, “para restaurar sua dignidade”. Um ano antes, a jovem de quinze anos conhecera o pai de Leonardo logo após ser comprada por Donato di Filippo di Salvestro Nati para trabalhar como ama de leite de sua mulher, Ginevra d’Antonio Redditi. “Piero, o tabelião que a libertou, foi o mesmo que se apaixonou por ela quando ainda era escrava, e com quem ele viria a ter um filho”, afirmou Vecce. O historiador chama a atenção para pequenos erros de caligrafia no manuscrito, detalhes que podem indicar o nervosismo do tabelião – engravidar a escrava de outro homem era considerado crime. Ainda segundo o livro, é grande a probabilidade de que Leonardo tenha sido concebido nas dependências do Palazzo Castellani, hoje sede do Museu Galileu, às margens do Rio Arno, em Florença.

HISTÓRIA Carlos Vecce: Pai de Da Vinci apaixonou-se por Caterina enquanto ela ainda era uma escrava (Crédito:Divulgação)

Leonardo nasceu em 14 de abril de 1452. Antes, portanto, da libertação de sua mãe. Ele era o primogênito de Piero, mas não de Caterina: como trabalhava como ama de leite, isso significa que ela já havia tido um filho ou filha. Vecce confirmou a informação: uma declaração mostra que, antes de Leonardo, sua mãe já havia dado à luz uma criança, em 1450.

O relacionamento entre Piero e Caterina durou pouco. Ela logo se mudou de Anchiano com o lavrador Accattabriga di Piero del Vaca, em um casamento arranjado pelo próprio Piero após o nascimento do filho. O pai de Leonardo, por sua vez, casou-se com Francesca di Giuliano Lanfredini. Há pouca informação sobre a infância do artista, mas sua adolescência é ricamente documentada. Em 1469, aos dezessete anos, tornou-se aprendiz de Andrea di Cione “Verrocchio”, com quem aprendeu técnicas diversas, entre elas o desenho e a escultura, mas também a química, a mecânica e a carpintaria. Logo floresceria o Leonardo Da Vinci que conhecemos, cujos talentos não são mistério para ninguém.

A origem africana de Juan de Pareja

Eternizado em um retrato feito por Diego Veláquez no século 17, Juan de Pareja permaneceu por séculos como um personagem secundário. Filho de mãe africana e pai europeu, trabalhou no ateliê do mestre espanhol em condição de escravidão por duas décadas, até ser libertado pelo próprio pintor. Iniciou então uma carreira própria em Madri, onde desenvolveu seu estilo único. O artista ganha sua primeira retrospectiva no Metropolitan Museum of Art, em Nova York, com a exibição de 40 obras.

ESTILO Pareja, em retrato feito por Velázquez (no alto): Acima, o quadro A Vocação de São Mateus, de 1661, de autoria do próprio Pareja, está na mostra Juan de Pareja, Pintor Afro- Hispânico, em exibição no museu Metropolitan, em NY