O Vulcão de Fogo, na Guatemala, não descansa jamais – está sempre ativo, ameaçando entrar em erupção tão repentinamente que pesquisadores na área de geofísica, encarregados de mantê-lo sob vigilância, podem sequer ter tempo de prevenir a população das cidades que dele se avizinham. Foi o que aconteceu na semana passada. O Vulcão de Fogo explodiu, lançando colunas de quatro a cinco quilômetros de altura e nuvens piroclásticas (compostas de cinzas, rochas e gases) que destruíram localidades próximas como, por exemplo, Chimaltenango, Escuintla e Sacatepéquez. Até a sexta-feira 8 sabia-se que ao menos cento e cinquenta pessoas haviam morrido – mas sabia-se, também, que esse número aumentaria porque se tinha notícia de muitos corpos soterrados. Somente na família da agricultora Lilian Hernández, por exemplo, são trinta e seis vítimas. “Tentei salvar minha avó. Ela disse que preferia morrer porque o vulcão é vontade de Deus”, diz Lilian. As lavas chegaram à temperatura de setecentos graus, incinerando e cobrindo tudo aquilo que encontraram pela frente: árvores, carros, casas… e gente. Foram justamente essa incrível rapidez e a força das lavas que levaram o Vulcão de Fogo a ser comparado ao Vesúvio, na Itália, embora tal cotejamento possa guardar uma dose de exagero – as colunas expelidas pelo Vesúvio, que aniquilou a cidade de Pompeia no ano de 79 d.C, chegaram a trinta e cinco quilômetros. Há, no entanto, uma forte semelhança entre a composição química dos gases e das rochas que formam o fluxo piroclástico de ambos. O Vulcão de Fogo e o Vesúvio não são gêmeos, mas podemos dizer que são irmãos.

BRASIL
Sessenta por cento das vítimas de violação sexual têm até 13 anos

Edson Lopes Jr./UOL/Folhapress

Foi divulgado o “Atlas da Violência 2018”, feito pelo Ipea em conjunto com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública. É estarrecedor. O número de estupros, notificados ao SUS, dobrou entre 2011 e 2016: eram 12.087 casos, tornaram-se 22.918 (estatística subestimada, segundo a polícia, que registra 49.497 violações sexuais). Cerca de 60% das vítimas têm até 13 anos. O Brasil também se encontra em situação deplorável na parte do estudo dedicada a homicídios: houve 62.517 mortes violentas em 2016 – o equivalente a 30 assassinatos por 100 mil habitantes, e isso é 30 vezes a taxa de toda a Europa. Para os que defendem irresponsavelmente a liberalização total do direito ao porte de armas de fogo, vale a informação: 71% dos crimes foram cometidos com elas. Negros e pardos são as maiores vítimas de mortes violentas: 40,2 assassinados a cada 100 mil habitantes, entre 2006 e 2016. O Rio Grande do Norte é o estado brasileiro no qual ocorre a maior taxa de homicídios.

Avener Prado/Folhapress

DÍVIDA
Avisem o STJ que o desemprego é alto no País

O STF deve reverter a decisão do STJ que permite recolher CNH de inadimplentes para forçá-los a pagar dívidas. Não é inconstitucional: o direito de ir e vir assegura-se por outro meio de locomoção. Mas é punição vexatória. Tem devedor
que não possui moedas nem para comer (14 milhões de desempregados). Há políticos que devem dinheiro ao erário
que assaltaram. Vão ficar sem a CNH?

SAÚDE PÚBLICA
A nova disparada da aids

The New York Times

Volta a ser alarmante a infecção pelo HIV. E em todo o mundo. Deve-se isso ao não uso de camisinha, e deve-se o não uso de camisinha à desinformação sobre a droga que protege em até 90% a exposição ao vírus, se tomada antes da relação (PrEP). Estudo feito na Austrália e publicado na revista “Lancet” mostra que a aids disparou no país. Ao mesmo tempo, saltou de 2% para 24% o uso da PrEP. Importante frisar: tal droga é bem-vinda por ser uma proteção a mais, que não deve dispensar o uso de preservativo.

NO BRASIL – O Ministério da Saúde pesquisou onze capitais do País. Em São Paulo o resultado é preocupante: 1 a cada 4 homens que fazem sexo com homens porta HIV. A infecção triplicou entre jovens de 15 a 19 anos.

SOCIEDADE
“Dormi negra, acordei branca”

Divulgação

Amiga da sambista Dona Ivone Lara, morta em abril, a atriz Fabiana Cozza foi escolhida para interpretá-la no musical que homenageia a cantora (“Dona Ivone Lara, um sorriso negro”). Ela e o produtor Jô Santana se tornaram então alvos de críticas (muitas partindo de movimentos que dizem lutar contra o preconceito racial), acusando Fabiana de não ser tão negra como era Dona Ivone. A atriz abriu mão do papel e afirmou “ter dormido negra” e acordado ‘branca’ aos olhos de tantos irmãos, após o anúncio de seu nome” na peça. Santana deveria tê-la mantido, mas capitulou sob o argumento de que a polêmica ajuda a reflexão. Fala André Lara, neto da sambista: “infelizmente vivemos nesse País de extremismos e aparências”.