26/08/2022 - 9:30
Com a economia instável por conta do período eleitoral, cada vez mais brasileiros estão investindo em ativos financeiros em outros países, sobretudo nos Estados Unidos e Portugal. Nem mesmo a alta da taxa Selic, que aumenta o retorno dos investimentos no Brasil, mudou essa tendência, acirrada pela polarização atual da política no País. De olho nesse filão de investidores sedentos por aplicações no exterior, bancos e corretoras brasileiras iniciaram uma corrida para diversificar suas carteiras de investimentos no mercado internacional.
US$ 547 milhões (cerca de R$ 2,8 bilhões) foram enviados por pessoas físicas para fora do país
Aplicações de recursos no exterior sempre foram importantes ferramentas de alocação estratégica de diversificação e mesmo para um planejamento patrimonial. Entretanto, eram possibilidades com difícil acesso e restritas a um público de grande poder aquisitivo. Até pouco tempo, por interesse dos grandes bancos, essa alternativa era voltada basicamente aos donos de grandes fortunas, com ao menos US$ 1 milhão investido. Agora, o acesso está se tornando mais democrático e pulverizado, com acesso inclusive para a classe média. Com a compra da Avenue, corretora brasileira com sede em Miami pelo Itaú Unibanco, ficou mais acessível essa possibilidade para todos os investidores que desejam diversificação das suas aplicações no atraente mercado americano. “Por sorte, vivemos na década das informações disponíveis e de fácil acesso. Aliado à forte evolução do mercado de assessoria profissional de investimentos, isso criou um ambiente onde tanto as grandes instituições financeiras, como as Fintechs, possam abrir uma ‘porta’ de acesso ao mercado internacional para os investidores de qualquer porte de aplicações”, avalia Alisson Ramos, membro do conselho da Improve Wealth Services, administradora de patrimônio.

Recentemente, o Banco Central informou que os aumentos da taxa Selic serão interrompidos em razão da queda inflacionária, o que vai gerar uma expectativa no mercado interno de melhora do cenário, vislumbrando uma estabilidade da economia. Para Isabela Komatu, CEO da Komatu gestora de recursos, esse posicionamento do Banco Central, no entanto, ainda é incerto para os próximos meses e o quadro continua favorecendo as aplicações em mercados mais seguros. “Se a Selic ficar em 13,75% por mais tempo que o mercado imagina, poderemos ver a bolsa brasileira andando de lado e o real se valorizando”, explica. Mas, se houver uma redução brusca na taxa de juros, segundo Isabela, pode implicar na valorização do dólar e desvalorização ainda maior do real, assim como aconteceu em 2019 e 2020.
Dados do Banco Central dão um termômetro do maior interesse dos brasileiros em investir lá fora. Apenas no primeiro trimestre deste ano, US$ 547 milhões (cerca de R$ 2,8 bilhões) foram enviados por pessoas físicas para fora do País. É uma alta de 73% em relação aos US$ 316 milhões em relação ao mesmo período do ano passado. Gestores financeiros relatam que a polarização política é um ingrediente a mais para essa tomada de decisão. “O Congresso saiu de uma agenda reformista para uma agenda social em poucos meses. Vemos ameaças de golpe militar ao mesmo tempo em que vemos políticos tradicionais defendendo a democracia. Tais atitudes deixam o mercado nacional apreensivo”, diz Gabriel Komatu, CEO da Komatu.
O passo do Itaú foi o mais relevante nessa direção, mas não o primeiro; antes BTG Pactual, XP e Inter já vinham se posicionando nesse mercado externo por meio de parcerias. O C6 também passou a oferecer a mesma facilidade, incluindo o acesso a fundos de casas estrangeiras. Santander e Bradesco também aumentaram suas apostas no exterior. A última grande instituição a abrir essa possibilidade foi o Banco do Brasil, que fechou parceria com o UBS.
“Estamos construindo e aprimorando constantemente o nosso ecossistema a partir das necessidades de nossos clientes e focando em toda sua jornada de investimentos. A participação na Avenue representa um passo estratégico. Trata-se do principal player de acesso a serviços financeiros do mercado norte-americano para brasileiros”, destaca Carlos Constantini, responsável pela área de Wealth Management Services do Itaú Unibanco. Corretoras menores e escritórios de investimentos também seguem a mesma estratégia, comprando empresas estrangeiras ou firmando parcerias em outros países. “Identificaram uma oportunidade e criaram não apenas uma empresa, mas uma nova linha de negócios”, completa Constantini.