02/12/2022 - 9:30
A inauguração da maior roda-gigante da América Latina será no dia 9 de dezembro, em São Paulo, e vai servir de referência visual para os avanços do programa Novo Rio Pinheiros, grande obra de revitalização urbana que anuncia resultados positivos. A chamada Roda Rico tem 91 metros de altura e está localizada em uma área de 4,5 mil metros quadrados, no Parque Cândido Portinari, ao lado do vizinho mais movimentado, o Villa-Lobos. A atração terá 42 cabines equipadas com ar-condicionado, monitoramento por câmeras, interfones e wi-fi. Sua estrutura também terá iluminação cênica, que pode ser personalizada para cada situação que o calendário de festas exigir. Grandes cidades pedem projetos ambiciosos de revitalização, e há uma onda em várias capitais do mundo de construir rodas-gigantes como marcos dessas imensas intervenções urbanas.
São iniciativas que influenciam de forma positiva, da economia ao meio ambiente, das comunidades que vivem no entorno até os aspectos culturais. O programa Novo Rio Pinheiros, iniciado em 2019, pretende deixar suas águas, consideradas mortas, limpas e repletas de peixes. “Pode-se dizer que a poluição havia tomado conta do rio. Nossa intenção é reintegrar esse corpo d’água à vida do paulistano”, afirma Fernando Chucre, secretário de Infraestrutura e Meio Ambiente do governo do estado. A proposta já resolveu o problema de coleta e tratamento de esgoto de 650 mil famílias que moram próximas ao rio.

“Trabalhamos com dois eixos principais, ambiental e urbanístico, para conectar equipamentos de lazer e mobilidade com as margens do rio”, diz o secretário. Para que o projeto do Novo Rio Pinheiros fosse colocado de pé, foi essencial a decisão política do ex-governador João Doria no que diz respeito à adequação de investimento e à organização das secretarias da administração estadual, com junção das empresas privadas como a Sabesp. Para realizar o trabalho de retirada de praticamente 800 mil m3 de resíduos que estavam do fundo do rio foram necessários 30 mil caminhões. Até agora, 86 mil toneladas de lixo, dividido entre garrafas pet, bicicletas, pneus, plástico e outros, foram retiradas e, em grande parte, destinadas a cooperativas que trabalham com reciclagem.

O esforço já apresenta mais resultados positivos. O Rio Pinheiros tem 85% de suas águas com oxigênio. Isso significa que um dos símbolos da cidade, sujo durante anos, hoje já não mais exala cheiro ruim e a vida voltou a fluir pelo corpo hídrico. “Quando posto fotos em minhas redes sociais, os meus amigos que moram em outras cidades não acreditam que o rio que aparece na imagem é o Pinheiros”, conta Ana Paula Leutz, 43 anos. Ela mora na zona sul paulistana, próximo ao parque que leva o nome do ex-prefeito de São Paulo, Bruno Covas, morto no ano passado. O parque margeia o rio e está integrado ao projeto de revitalização urbana. O governo estadual desenvolveu um esquema de trabalho em período integral com 200 trabalhadores, e alguns afirmam que ali já surgiram peixes.
Após o tratamento do rio, o lugar se tornou uma espécie de refúgio para os moradores da cidade. Percebendo o retorno da fauna e da flora, ao caminhar pelo Parque Bruno Covas vê-se um bem cuidado gramado, ciclovia de 8,2 km sinalizada e diversos equipamentos que facilitam a vida de quem veio passear ou se exercitar. “Nós conhecemos o parque desde sua inauguração e estamos curtindo as mudanças”, afirma a professora Cintia Verônica Cocuzzi, 43 anos. Ela, o marido Ricardo e o filho Noah, que tem 2 anos, frequentam o local todos os finais de semana. “O paulistano gosta de ambientes como esse e de fazer esportes, é só proporcionar o acesso”, afirma Cintia. No Parque Bruno Covas, há um espaço criado pela empresa de artigos esportivos Asics, no qual o visitante, esportista ou não, toma emprestado um par de tênis da marca para caminhar pelo parque, que também tem oferta de aluguel de bicicletas.“Troquei o Ibirapuera pelo Bruno Covas”, conta Valdir Rodrigues, que pedala aos sábados e domingos.
“Quando posto fotos em minhas redes sociais, meus amigos que moram em outras cidades não acreditam que o rio nas imagens é o Pinheiros” Ana Paula Leutz, profissional de TI

O projeto Novo Rio Pinheiros passou a fazer parte da cultura urbanística da metrópole. Apesar da mudança de governo, seguirá em frente, sem data para terminar. O esquema de limpeza de rios e integração da cidade deve ser contínuo. Iniciativas de atualização urbana que inspiram São Paulo podem ser observadas em Londres, na Inglaterra, Paris, na França, e Barcelona, na Espanha. Os ingleses conseguiram limpar o rio Tâmisa, que durante 50 anos foi conhecido como “O grande mau cheiro”. Suas águas passaram a ser navegáveis e há exuberante número de espécies de peixes. Lá também está a London Eye, uma roda-gigante de 135 metros de altura. Os franceses não ficam para trás. A despoluição do rio Sena, que na década de 1960 foi considerado biologicamente morto, será destaque nas Olimpíadas de Paris, em 2024. E a cidade também tem uma roda-gigante para chamar de sua, aberta há 23 anos, a Grande Roue. Barcelona é tida como um modelo de urbanismo por outras nações. Os catalães promoveram tamanha modernização durante cerca de 30 anos que construíram o conceito de cidade inteligente, investindo fortemente em transporte público e em incentivar a população a ocupar as ruas a pé. Atualmente, 41% dos trajetos em Barcelona são feitos pelas pessoas de bicicleta ou andando, e 35% por ônibus e metrô. As consequências são as melhores: a quantidade de pessoas mortas no transito caiu 10%, e o número de feridos graves, 20%.

De volta ao Brasil, a região portuária na cidade do Rio de Janeiro passou pelo projeto revitalização Operação Urbana Porto Maravilha. É a maior parceria público-privada (PPP) do País. Começou em 2009 para revigorar a região e reintegrá-la ao município. Toda a infraestrutura urbana é reconstruída paralelamente aos novos edifícios ambientalmente adequados, em empreendimentos imobiliários emergentes. São destaques na área o Museu do Amanhã, e o MAR, Museu de Arte do Rio. E, seguindo a moda, o Porto Maravilha também tem sua roda-gigante, a Yup Star Rio, que funciona há três anos e tem 80 metros de altura.