21/02/2020 - 9:30
Derrotar Donald Trump é uma obsessão do Partido Democrata desde a posse do presidente republicano, em 2017. As primárias para a escolha do candidato democrata, que começaram no pequeno estado de Iowa, em fevereiro, deveriam apontar um nome viável para bater o presidente. Mas elas estiveram longe de chegar a um consenso. Ao contrário, ampliaram as dúvidas na legenda. Mostraram o favoritismo de Bernie Sanders, da ala esquerda do partido, e o declínio do ex-vice-presidente Joe Biden, cada vez mais distante de liderar a oposição. Isso abriu uma avenida para o milionário Michael Bloomberg consagrar-se como o grande candidato moderado — aquele com chances reais de derrotar o presidente, atual favorito.
Bloomberg tem crescido rapidamente, e já atingiu o segundo lugar na preferência dos democratas. Ele optou por não participar das quatro primárias iniciais (que escolhem menos de 4% dos delegados), e vai entrar na corrida somente na Superterça, em 3 de março, quando 14 estados vão às urnas. Com uma fortuna que ultrapassa US$ 60 bilhões, está disposto a investir até US$ 1 bilhão do próprio bolso para bater Trump, o que tem levado os adversários a dizerem que deseja “comprar a eleição”. Numa estratégia para fortalecer sua candidatura, subiu o tom e trocou insultos com o presidente, a quem chamou de “palhaço”. Porém, vai precisar vencer a imagem ligada a Nova York, que administrou, e aos banqueiros, longe dos trabalhadores da América profunda.

Bloomberg se dispôs a investir até US$ 1 bilhão para derrotar Trump. Ele vai entrar na corrida em março, quando 14 estados vão às urnas
Depois de liderar as pesquisas dos democratas por quase um ano, Joe Biden está numa situação delicada. Não passou da quarta colocação nas primeiras primárias — e a situação deve se repetir no caucus de Nevada, no sábado 22. Os resultados colocaram sua campanha em crise. Espera a adesão da comunidade negra, mas tem dificuldades crescentes em conseguir fundos para a campanha, o que diz muito sobre suas chances. Uma supresa no campo moderado é Pete Buttigieg. Ele cultiva a imagem de um “novo Obama” — ou seja, um jovem outsider com carisma que consegue renovar o discurso do partido. É um triunfo surpreendente, já que, aos 37 anos, é o primeiro postulante abertamente gay a figurar entre os pré-candidatos. Sua vitória apertada na primária de Iowa, e a segunda colocação em New Hampshire, próximo do vencedor Bernie Sanders, transformou sua indicação em uma possibilidade concreta, mas também uniu todos os competidores contra ele. Até aliados de Trump, constatando seu potencial, passaram a hostilizá-lo com ataques homofóbicos. Veterano de guerra, Buttigieg é uma voz moderada — prega a prudência fiscal e a diminuição do déficit público, que explodiu sob Trump. Mas é inexperiente no cenário nacional. Tem no currículo apenas a gestão de uma cidade de médio porte no estado de Indiana. Outro nome moderado, com poucas chances, é a senadora Amy Klobuchar.
Ala progressista
Quem consolida sua posição é Bernie Sanders. Trump torce pela sua vitória, pois o senador de Vermont se define como socialista e ataca pilares da sociedade americana, propondo maior intervenção estatal e taxação dos ricos. É o que assusta a elite democrata. Para a direção do partido, Sanders é a receita para dar a reeleição a Trump. No entanto, o político de 78 anos cativa a ala jovem do partido. A primazia na ala esquerda também é disputada pela senadora Elizabeth Warren, que tem propostas semelhantes às de Sanders, como saúde gratuita para todos. Mas ela tem obtido resultados decepcionantes. Com a dianteira do senador, os democratas estão numa encruzilhada. Se não encontrarem o nome certo para derrotar Donald Trump, o presidente pode ampliar em um segundo mandato sua agenda nacionalista, xenófoba e de privilégio aos mais ricos. Um problema para o país e para o mundo, que já sente na prática as consequências do populismo e do ataque à globalização.