26/08/2022 - 9:30
Gleisi Hoffmann e Valdemar Costa Neto, presidentes do PT e do PL, respectivamente, vivem uma sinuca de bico. Impulsionados pela polarização a investir pesado nas campanhas de seus presidenciáveis, os dois comprometeram-se a repassar a Lula e a Jair Bolsonaro, o teto do que eles podem gastar: R$ 88,9 milhões. A decisão, por óbvio, encurtou o cobertor financeiro dos partidos. Com recursos contados, o fundo eleitoral das siglas, que, diga-se, é altíssimo, virou alvo de uma acirrada disputa entre candidatos à Câmara, ao Senado e aos governos estaduais, com bate-bocas em reuniões, críticas entre corredores e em grupos de WhatsApp e reclamações até mesmo sobre a postura dos candidatos ao Planalto.
O retrato financeiro preocupa os dirigentes — e não apenas porque uma base forte no Congresso é essencial para o sucesso de qualquer governo. Para além disso, os fundos partidário e eleitoral dos anos subsequentes são calculados com base na bancada eleita. Ou seja, um menor número de candidatos a deputado escolhidos nas urnas significa menos dinheiro em caixa na eleição seguinte. De olho no futuro, Gleisi e Valdemar têm incentivado Lula e Bolsonaro a pedir doações, para que os “extras” permitam aos partidos reorganizar o fluxo interno e alocar recursos em outras campanhas.

Valdemar é o que mais tem perdido o sono no meio político, embora o partido tenha R$ 288 milhões em caixa. Ao levar Bolsonaro e sua claque para o PL, sonhava em eleger a maior bancada da Câmara a partir de gordas doações de empresários simpáticos ao Planalto e da transferência de votos do presidente a candidatos. O dirigente, porém, foi do céu ao inferno em pouco tempo. No QG da campanha, lida com a resistência do capitão em pedir doações. O pouco caso de Bolsonaro já colocou aliados em saias-justas — há dois meses, Tereza Cristina organizou um almoço com empresários em Brasília e o presidente, que cumpria agenda em São Paulo, chegou ao encontro com 4 horas de atraso. De lá para cá, não mudou de postura. O maior esforço feito até agora para arrecadar dinheiro foi a gravação de um vídeo, no qual pede apoio financeiro para fazer o PL crescer.
O dirigente do partido já confidenciou a aliados que precisaria de mais R$ 400 milhões para bancar todas as candidaturas por ele afiançadas. “A situação é periclitante. Valdemar está desesperado porque, em Brasília, tem a fama de cumprir acordos. E, dessa vez, ele fez vários que, pelas atuais perspectivas, não vai cumprir”, comenta um nome próximo ao presidente do PL. Por ora, somente nomes da “lista VIP” de Bolsonaro foram agraciados com nacos de dinheiro. Antes críticos ao fundão, Eduardo Bolsonaro e Carla Zambelli, por exemplo, receberam R$ 500 mil e R$ 1 milhão. “A impressão que temos é a de que, com dinheiro garantido para a eleição presidencial, Bolsonaro e Flávio, que coordena a campanha, não estão preocupados com os outros”, diz um deputado da sigla. E não há uma tendência de melhora no horizonte. Para os liberais, a decisão de Alexandre de Moraes, do STF, contra empresários bolsonaristas inviabiliza a doação por parte deles e inibe contribuições de outros executivos, que preferirão se distanciar da cena política.
No PT, a condição é menos crítica, porque tanto Lula quanto Geraldo Alckmin não se envergonham ao pedir recursos. Além disso, o partido tem um fundo eleitoral mais robusto, de R$ 499,6 milhões. Ainda assim, o ambiente está longe da pacificação. Nesse mês, Gleisi Hoffmann e a secretária de finanças da sigla, Gleide Andrade, bateram boca ao divergirem sobre critérios de divisão de recursos para aspirantes à Câmara.
Àquela altura, Gleide propunha que os 56 deputados petistas candidatos à reeleição e mais quatro integrantes da Executiva, ela incluída, ganhassem R$ 2 milhões para o custeio da campanha. Já a presidente do PT queria ampliar a lista VIP e concluí-la com quase 70 nomes pretensamente para garantir maiores chances de governabilidade numa eventual eleição de Lula. Depois da acalorada discussão, ao longo de outras reuniões, Gleisi recuou. A conta, no entanto, acabou reformulada. Pelo novo quadro de contribuição, quem tentar mais um mandato à Câmara vai contar com R$ 1,6 milhão, dizem petistas. Nada como uma campanha eleitoral para estampar as diferenças intrapartidárias.