06/05/2022 - 9:30
Os medicamentos conhecidos como opioides estão sendo cada vez mais utilizados de forma inadequada no Brasil. Essas drogas são sintéticas, derivadas da planta papoula, vegetal que é base para produção do extrato de ópio, pertence à mesma família da heroína. Tem forte efeito analgésico e serve para aliviar dores fortes e crônicas rapidamente. Esses remédios são utilizados principalmente no tratamento de doenças como câncer, hérnia de disco, cálculo renal, cefaleias, entre outras. O problema com o seu uso é a potencial dependência que ele pode causar. São raros os casos em que isso não ocorre. “A medicação causa sensação de bem-estar e alívio da ansiedade”, diz Fábio Scaramboni Cantinelli, chefe de Psiquiatria do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo. O médico explica que além de tirar a dor, os opiáceos são capazes de proporcionar enorme relaxamento. “A pessoa sente como se os problemas sumissem, mas a crise de abstinência é difícil de suportar”, afirma. A falta da substância no organismo causa dores múltiplas, alucinações, taquicardia, e outros efeitos indesejados. “Por isso, ao terminar o período terapêutico, deve-se fazer o chamado desmame, que é a retirada gradual da droga”.
Cresce uso ilegal
A constatação do consumo exacerbado está presente em trabalhos científicos recentemente divulgados. Uma pesquisa da Fiocruz intitulada Levantamento Nacional sobre o Uso de Drogas pela População Brasileira, mostrou que 4,4 milhões de pessoas já utilizaram fármacos opiodes ilegalmente. Em outras palavras, o remédio foi adquirido sem receita médica. Outra pesquisa do American Journal of Public Health afirmou que a venda, com prescrição, teve um salto superior a 400% em seis anos. Para comprar esse tipo de medicação é necessária uma receita rigidamente preenchida. Mesmo assim, a codeína, originária do ópio, que serve para dores mais leves, é um dos campeões de vendas. Em alguns casos chega representar até 90% das indicações. Há a percepção de que o Brasil e outros países em desenvolvimento podem cair na mesma cilada dos EUA.
No caso norte-americano, desde os anos 1970, o lobby dos fabricantes sobre os médicos induziu ao consumo menos cuidadoso. Ou seja, os opioides passaram a ser prescritos para tratamentos menos complexos que poderiam ser resolvidos com analgésicos comuns. Estima-se que desde o inicio do século, cerca de 500 mil pessoas perderam a vida por overdose. Atualmente, há 2 milhões de viciados na droga. No Brasil, há casos exemplares de bom uso de opioides. Adriana Nascimento, 45 anos, sofre de lúpus, doença autoimune que causa dores intensas por todo o corpo. Ela tem medo de que o uso inapropriado prejudique as pessoas que seguem as regras. “As farmácias têm estoques pequenos e, às vezes, tenho dificuldades para encontrar os remédios”, afirma.