18/05/2005 - 10:00
Há quatro anos, foi lançado no Japão um mangá (história em quadrinhos japonesa) com um herói diferente. Sua missão não era desequilibrar a luta entre o bem e o mal, mas salvar companhias da falência. Com tiragem de mais de 500 mil exemplares, o mangá conta a história de como o super-herói brasileiro Carlos Ghosn recuperou a Nissan, segunda maior montadora japonesa, atrás apenas da Toyota. Aos 51 anos, ele também acumula vários prêmios: foi eleito um dos 25 executivos mais influentes do mundo pela revista Time em 2001; o “estrategista de 2002” pelo jornal francês La Tribune; e o melhor administrador do Japão, segundo diversas publicações nipônicas. A relevância e a quantidade dos prêmios poderiam indicar que Ghosn, depois da bem-sucedida reestruturação da Nissan, havia atingido o ápice da carreira. Ledo engano. Há três semanas, com fôlego digno dos heróis de quadrinhos passou a acumular a presidência mundial da francesa Renault, sem abandonar o comando da Nissan.
As duas montadoras têm uma aliança mundial desde 1999. A francesa é dona de 44,4% da Nissan, que detém 15% da Renault. Descendente de libaneses, nascido em Porto Velho, Rondônia, Ghosn passou a infância e a juventude primeiro no Líbano e depois na França, onde se graduou em engenharia e iniciou a carreira na fabricante de pneus Michelin. Já na Renault, foi incumbido pelos franceses de recuperar a deficitária Nissan, que acumulava um prejuízo de US$ 6,5 bilhões. Seis anos depois, o lucro operacional de US$ 8 bilhões transformou a Nissan na montadora com maior margem de lucro operacional do mundo (10%).
Conhecido como “cost killer” (algo como o matador de custos) por ter fechado fábricas e demitido mais de 21 mil trabalhadores na Nissan, Ghosn não vê dificuldade em presidir duas companhias ao mesmo tempo: “Na verdade, é relativamente simples. O mais importante é garantir que a estratégia e as prioridades de cada companhia estejam claras. Quando se trabalha em conjunto, o resultado sai melhor”, disse o brasileiro logo após assumir, no final de abril, o quarto maior conglomerado automotivo do mundo, com vendas de mais de US$ 130 bilhões. Até dezembro deste ano, dois terços de seu tempo serão gastos com a Renault e um terço com a Nissan. “Isso é lógico, pois já conheço a Nissan como a palma da minha mão”, diz ele. Agora, o desafio do super-herói Ghosn é usar seus poderes para tornar a Renault tão lucrativa quanto a Nissan.