Os oncologistas estão tomando atitudes corajosas para abrir mais vantagem na corrida contra o câncer. Uma delas muda a forma de tratar os idosos. Em vez de evitar a quimioterapia para maiores de 65 anos, como vinham fazendo há tempo, os médicos começam a indicar para esses pacientes os mesmos tratamentos dados aos jovens. A nova conduta está ganhando força nos principais centros oncológicos do mundo. “Antes, acreditava-se que era necessário preservar os idosos de intervenções agressivas e dos efeitos colaterais para não lhes causar sofrimento demais ao doente”, diz o especialista Luís Paulo Kowalski, do Hospital do Câncer A.C. Camargo, em São Paulo. Uma das razões da guinada está na descoberta de medicamentos com menores efeitos colaterais, como as substâncias que permitem fazer a quimioterapia por via oral. Em alguns casos, tal tratamento pode ser feito até em casa.

A outra tendência é a ampliação das indicações de remédios de última geração, as chamadas terapias-alvo, para um número maior de tumores. As drogas atingem estruturas específicas das células malignas para impedir sua expansão. Um dos mecanismos adotados é o bloqueio dos vasos sangüíneos que alimentam o tumor. Diversos estudos com esse foco serão divulgados no mais importante congresso da especialidade, o encontro anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica, que se realiza nesta semana em Chicago (EUA). “As pesquisas estão mais centradas na revisão dessas estratégias de tratamento. Isso é vital para aprimorar a luta contra os tumores mais difíceis de tratar. Pode ser uma esperança de vida para muita gente”, diz o oncologista Carlos Gil, do Instituto Nacional do Câncer. A expectativa dos especialistas é de que em breve a doença, mesmo nas versões mais agressivas, possa ser mantida sob controle como se fosse uma enfermidade crônica, a exemplo da diabete. Uma das novidades é o uso do sorafenibe, já aprovado contra tumores de rim, mas que agora tem recomendação para tratar câncer de fígado em estágio avançado. “É uma alternativa para pacientes com cirrose hepática que não metabolizam bem os medicamentos. Nesse caso, a droga aumenta as chances de controle da doença”, diz o médico Frederico Costa, do Hospital Sírio Libanês.

Em Chicago também serão mostrados novos testes genéticos para ajudar na escolha da terapêutica mais eficiente. Eles já são usados em hospitais de vanguarda e podem indicar, por exemplo, se o organismo eliminará bem os resíduos da quimioterapia. “Cada um desses avanços ajuda a construir um cenário mais favorável no cuidado com a doença, com efeitos importantes na qualidade de vida de doentes e também dos familiares”, diz Nise Yamaguchi, do Instituto Avanços da Medicina, em São Paulo.