04/05/2018 - 18:00
Os protestos na Nicarágua não param. Centenas de estudantes da Universidad Centroamericana (UCA) que marchavam em direção à Assembléia Nacional foram bloqueados, na quarta-feira 2, por policiais da tropa de choque na Avenida Simon Bolivar, uma das principais vias da capital Manágua. Foi mais um episódio do conflito deflagrado no dia 18 de abril, a partir de uma manifestação contra a Reforma da Previdência pretendida pelo governo — e que se transformou, nas últimas semanas, numa crítica dura ao regime autoritário de Daniel Ortega e a seus abusos de poder.

Segundo o Centro Nicaraguense de Direitos Humanos (Cenidh), 45 pessoas morreram até agora nos protestos. A grande maioria das vítimas é de jovens estudantes universitários atingidos pela repressão policial e por grupos paramilitares. Outras 120 pessoas foram presas e pelo menos 50 ficaram feridas. É a maior onda de protestos na Nicarágua desde o fim da Guerra Civil, em 1990. Em dezenas de localidades do país, prédios públicos foram destruídos e supermercados, saqueados.O jornalista Ángel Gahona foi morto ao vivo com um tiro na cabeça enquanto cobria os protestos.
A Nicarágua enfrenta problemas econômicos e políticos graves e uma grande insatisfação popular. O preço dos combustíveis disparou e o governo é frequentemente acusado de desrespeitar os direitos humanos.

A Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN), partido oficial, se converteu em um aparelho repressivo cujo único objetivo é manter no cargo Ortega e sua mulher, Rosario Murillo, atual vice-presidente. A dupla comanda o país desde 2007.
O sandinismo, que já teve uma aura de rebeldia, virou um modelo conservador e sem perspectivas. Em meio à onda de protestos, o presidente classificou os manifestantes como “membros de gangues” e disse que é preciso restabelecer a ordem: “nós não podemos permitir que aqui se imponha o caos, o crime e o saque”. Ele também voltou atrás na reforma da previdência que desagradava empresários e trabalhadores. Agora, tenta avançar num diálogo nacional mediado pela Igreja. O problema
é que a população já perdeu a confiança no líder sandinista.