Ao completar 78 anos neste sábado
7, a Varig não tem muito o que comemorar. Atolada em dívidas que chegam a R$ 9 bilhões e com patrimônio líquido negativo de R$ 6,5 bilhões, a companhia procura desesperadamente por um sócio com condições de tirá-la do buraco negro em que se meteu. Na semana passada, uma luz voltou a aparecer no fim do túnel. A portuguesa TAP confirmou a intenção de se tornar sócia da companhia aérea brasileira. O negócio, antecipado na edição de 23 de março pela ISTOÉ, tem a simpatia do governo brasileiro, que vê os portugueses como os parceiros ideais em uma possível fusão entre as duas companhias. Do lado português, o recém-eleito primeiro-ministro, José Sócrates, também já se mostrou favorável a um acordo entre as duas empresas. Sem muitos detalhes, a proposta formalizada pela TAP, que tem no comando o brasileiro Fernando Pinto, é de aquisição de 20% da companhia brasileira, porcentual máximo permitido pela nossa legislação.

Responsável pelo saneamento da estatal portuguesa, ex-presidente da Varig e hoje uma celebridade em Portugal, Fernando Pinto tem dito à imprensa de seu país que a TAP não quer ficar de fora do negócio e tem todo o interesse em ajudar a Varig a solucionar seus problemas financeiros. Já se fala até em uma sociedade entre as duas companhias para atuar conjuntamente e controlar o mercado aéreo no Atlântico Sul. Mas tudo ainda não passa de planos. De concreto mesmo só a escolha de David Zylbersztajn neste sábado para a presidência do Conselho de Administração da Varig. Ex-presidente da Associação Nacional do Petróleo (ANP) e com grande visibilidade no mundo dos negócios, o executivo é uma aposta da Fundação Ruben Berta para melhorar a condução das negociações e encontrar um parceiro com capital para o negócio. A chegada de Zylbersztajn, que já está trabalhando com uma equipe própria desde a semana passada, força alterações na diretoria da Varig, que deverá mudar radicalmente, inclusive com a saída do atual presidente Carlos Luiz Martins. O novo executivo tem liberdade para escolher o substituto do cargo.

A situação da Varig tem dado muitas dores de cabeça ao ministro da Defesa e vice-presidente, José Alencar. Defensor de uma saída viável para a companhia, Alencar tem pressionado a direção para que defina rapidamente uma solução de mercado. Na segunda-feira 2, ele teve uma conversa ríspida com o então presidente da empresa, Carlos Luiz Martins. Alencar chegou a ligar para Ernesto Zanata, presidente do Conselho Curador da empresa, exigindo urgência na apresentação de um plano de reestruturação da companhia que apontasse o novo sócio. Na quinta-feira 5, foi a vez de Martins reclamar do tratamento dado à Varig pelo governo. “Todo mundo agora joga pedra na Varig”, reclamou ele ao lembrar os números positivos conseguidos na sua gestão, como o crescimento de 40% da receita operacional e o lucro operacional de R$ 450 milhões em 2004. O problema é que o resultado líquido final, apesar do desempenho favorável, permanece negativo em R$ 87 milhões. Agora, com Zylbersztajn no comando, e uma tênue melhora nos números da companhia, o negócio com a TAP pode prosperar e ser motivo para a Varig comemorar, mesmo que atrasado, o presente pelos 78 anos.