20/04/2005 - 10:00
Sorrateiramente, sem muito alarde, a inflação dá indícios de ganhar fôlego. Nada ainda que tire o sono da equipe econômica do governo, mas, dizem os especialistas, a meta de fechar o ano com uma taxa de 5,1% fica mais distante a cada mês. Todos os índices que medem a inflação mostram que, no acumulado dos últimos 12 meses, eles ultrapassam com folga 7%. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), usado para o sistema de metas da inflação, por exemplo, já está em 7,54% em 12 meses. Desde o início do ano, o dragão vem ganhando musculatura graças aos reajustes dos chamados preços administrados, como impostos e taxas, alimentos (com aumentos pequenos mas sistemáticos) e tarifas de ônibus. Este último, responsável por boa parte do estrago causado na inflação de março. Antes, em fevereiro, foi a vez das mensalidades escolares e, em janeiro, IPVA e IPTU, os impostos pagos por proprietários de veículos e imóveis, foram os vilões.
Com tantas pressões, a leitura do mercado é de que o Brasil está se afastando cada vez mais da meta estabelecida para 2005. Mesmo que o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, afirme que é cedo para descartá-la. No último levantamento feito pelo BC com instituições e consultorias financeiras, as expectativas para o IPCA subiram pela sexta vez consecutiva, batendo nos 6,04%. “A meta, provavelmente, está perdida”, diz Paulo Picchetti, coordenador do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), que registrou em março a maior elevação desde agosto de 2004 (0,98%). Apesar da impossibilidade de atingir a meta, o economista diz que esse fato não significa que haja um descontrole da inflação. Pelo contrário, ele estima que o mais provável é que o índice no final de 2005 fique bem abaixo dos 7,6% de 2004.
“A inflação está, sim, mostrando suas garrinhas”, diz Cornélia Porto, coordenadora do Índice do Custo de Vida, do Dieese, que acusou aumento de 1,10% em março para as famílias paulistanas mais pobres. Já a inflação para os mais ricos foi menor, de 0,66%. Mas, no acumulado em 12 meses, ultrapassa os 8%. O receio de Cornélia é de que a inflação de 2005 acabe superando a do ano passado, de 7,7%. Apesar das pressões do petróleo, dos aumentos nas commodities e de novos reajustes em preços administrados como telefone e remédios, o professor Fernando Holanda Barbosa, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), acredita que a inflação deve mesmo ficar na casa dos 6% em 2005, como estima o mercado. “Em um horizonte mais longo, a inflação deve se ajustar ao patamar desejado pelo BC”, diz ele.
O economista e ex-diretor do BC Carlos Thadeu de Freitas também calcula que a inflação não deva ultrapassar os 6,5%, mesmo se o preço da gasolina subir. Mas ele não está preocupado. “Temos uma barriga inflacionária no momento. Entretanto, no horizonte mais longo, de 12 ou 18 meses, a trajetória é de queda”, afirma. Por isso, ele não acredita em um novo aperto nos juros na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que começa na terça-feira 19.