Em Mercedes do tamanho do seu bolso. No final dos anos 90, o slogan anunciava a abertura da fábrica da marca alemã em Juiz de Fora (MG) e a chegada ao mercado dos primeiros compactos Classe A. A meta de vender 70 mil unidades por ano jamais foi atingida. Longe disso. Do primeiro carro, em abril de 1999, até agosto deste ano, quando o modelo sairá de linha, serão 63 mil unidades, menos do que se planejava desovar num único ano. Com preços entre
R$ 44 mil e R$ 60 mil, o brasileiro achou o carrinho pequeno demais para ser o primeiro da família e caro demais para ser o segundo. Agora, sobra o pesadelo: o que fazer com a unidade que consumiu U$S 400 milhões apenas na planta?

A DaimlerChrysler anunciou o fechamento, mas, diante das mobilizações, recuou. Em nota oficial, o Comitê Executivo do Mercedes Car Group, da Alemanha, afirmou ter aprovado um novo “conceito de produção” para a fábrica mineira, mas não deu nenhuma dica sobre o que vem a ser isso – os detalhes “serão apresentados oportunamente”. De positivo, a afirmação de que o tal conceito “permitirá a continuidade das operações”, um compromisso de que a planta não fechará. Não é o suficiente. Se a unidade for adaptada, por exemplo, para veículos que chegarão em grandes partes, para ser montados (CKD, iniciais em inglês de completamente desmontado), aposta maior do momento, precisarão de 300 funcionários. Para juntar os pedaços de 20 mil sedans por ano, em uma unidade da Mercedes na Grécia bastam 342 almas.

O acordo de Juiz de Fora foi selado em 1996. Para garantir 1.160 empregos diretos, 250 indiretos e a unidade aberta pelo menos até 2016, a Mercedes, por conta da insanidade em que se transformou a guerra fiscal no País, recebeu um pacotão de benefícios que espanta pela generosidade. Os 50% de desconto no imposto de importação para as 3.300 vans modelo Sprinter e os 1.100 carros de luxo vendidos por aqui são apenas a cobertura cremosa de um bolo que incluiu até o desvio de parte do leito do rio Paraibuna (leia quadro). Ainda assim, há quem ache normal considerar agora a hipótese de reduzir drasticamente esses postos de trabalho ou mesmo de fechar as portas. Um encontro da falta de medida na hora de conceder agrados com o dinheiro público com a idéia torta de que ainda é aceitável alterar acordos, deixando o prejuízo no colo de tanta gente.