21/05/2008 - 10:00
Nenhuma medalha vale o doping. Não só porque é uma vitória que pode se transformar em derrota, mas porque é uma inscrição humilhante na história do esporte. O doping é o uso de substâncias proibidas que aumentam artificialmente o desempenho do atleta. De acordo com o Código Mundial Antidoping, as punições para quem é flagrado são severas: vão da perda do prêmio à suspensão definitiva. O prejuízo à saúde também é enorme, pois as substâncias podem levar à morte ou provocar danos irreversíveis ao organismo. Apesar disso, ele sempre está presente nos jogos. Na Olimpiada de Atenas, em 2004, 24 atletas foram flagrados nos testes antidoping, um recorde.
COMPETIÇÃO Em enquetes com atletas de alto rendimento, mais da metade diz que se doparia pelo ouro
O Comitê Olímpico Brasileiro (COB) quer chamar a atenção dos atletas brasileiros para a questão. O COB está distribuindo uma cartilha sobre o uso de medicamentos aos atletas que vão à China. Serão feitos, ainda, cerca de 600 testes antidoping antes dos Jogos. Para o presidente da Associação de Estudos e Combate ao Doping, Alexandre Pagnani, a iniciativa do COB não é suficiente. "Enquanto o Brasil não tiver uma legislação antidoping, teremos problemas de dopagem", afirma.
Às vezes, o princípio ativo de uma vitamina é o mesmo das substâncias proibidas e, até que se prove o contrário, o atleta é afastado por 60 ou 120 dias, como aconteceu com o jogador Dodô, hoje no Fluminense, que tomou um suplemento alimentar sem saber que nele continha uma química proibida. Ele será julgado pela Corte Arbitral do Esporte, na Suíça. Drama pior passa Rebeca Gusmão. A Federação Internacional de Natação suspendeu a atleta por dois anos pelo uso de testosterona, detectada em exame feito nos Jogos Pan-Americanos de 2007, no Rio. Ela nega o uso do hormônio. "O corpo que eu tenho é resultado de 12 anos de musculação", afirma.
Para o coordenador do Laboratório de Controle de Dopagem, Francisco Radler de Aquino Neto, é a cobrança sobre os atletas por bons resultados que leva o competidor ao doping. "Infelizmente, até os patrocinadores podem induzir a isso", diz. Nas enquetes feitas com atletas de alto rendimento, mais da metade reconhece que tomaria qualquer coisa que lhes garantisse a medalha de ouro, mesmo que isso representasse sua morte em alguns anos. É a derrota do espírito esportivo.